Lightlark (Lightlark, #1)(105)
— Eu liderei nossos exércitos.
Isla parou no corredor. Ela colocou as m?os nos quadris.
— Você comandou os exércitos de Lightlark?
Ela esperava que Oro a encarasse, mas ele n?o o fez. Apenas assentiu. Contudo, fazia sentido. Era por isso que ele era t?o bom nos duelos. Isla come?ou a caminhar de novo, mais devagar dessa vez. Ele acompanhou seu passo.
— é por isso que você odeia ele, n?o é?
Oro parecia saber que ela se referia a Grim. Apesar de ter ouvido falar do antigo título do Umbra, Terra nunca havia contado a ela sobre o de Oro. Ela se perguntou por quê. Ela ao menos sabia? Isla sup?s que a reputa??o e história do rei dos Solares antes das maldi??es tinham sido apagadas por tudo o que veio depois.
— Nós dois perdemos muitos guerreiros — ele disse. — E eu n?o concordava com a maneira como ele lutava. — Oro n?o deu mais explica??es, e ent?o eles chegaram a sua porta. — Você vai ficar bem?
Oro olhou por cima do ombro, verificando se os guardas tinham seguido os dois. Eles estavam em seus lugares encostados na parede, vigiando o corredor.
Isla assentiu.
— Eu vou ficar bem.
Quando ele se virou para ir embora, ela segurou seu punho.
— Espere. Ainda tenho tantas perguntas. Você pode entrar? — Parecia que era a última coisa que ele queria fazer, mas Isla n?o foi dissuadida por sua express?o. — Vou fazer um chá — acrescentou.
Ela entrou. E, por insistência, Oro a seguiu. Ele aqueceu um pouco de água, e ela encontrou a bolsa de especiarias e flores Selvagens para preparar sua bebida favorita, um chá que ela chamava de abelha amarela.
— Por que abelha amarela? — Oro perguntou antes de tomar um gole, parecendo gostar.
Isla se sentou ao lado dele no sofá e deu de ombros.
— A planta que produz essas flores estava sempre cheia de abelhas — ela disse. — Eu costumava levar pelo menos três picadas toda vez que tentava colhê-las para o chá, mas valia a pena.
Oro lan?ou-lhe um olhar estranho.
— Você n?o tem dormido bem, n?o é? — ela perguntou, inclinando-se na dire??o dele, olhando de soslaio para as bolsas sob seus olhos.
Ela esperava que ele ignorasse a pergunta, como tinha feito antes, mas ele disse:
— N?o. Faz muito tempo que n?o durmo direito.
— Por quê? — Sua voz, surpreendentemente, era gentil. Sem julgamentos, como sempre tinha sido com ele.
Oro olhou para a árvore, seus frutos maduros e inchados com suco, t?o pesados que os galhos estavam baixos.
— Sinto muita culpa — ele disse calmamente. — Que n?o me deixa dormir.
Culpa. Isla conhecia a palavra muito bem.
— Como você me encontrou? — Isla perguntou de súbito. Ela se recordava de fragmentos daquela noite, como um espelho estilha?ado.
— No corredor? Eu segui o rastro de pétalas.
Ela balan?ou a cabe?a.
— N?o… antes.
Na floresta da Ilha da Lua.
O ar esfriou e se acalmou, e Isla cantarolava suavemente ao som de sua corrente.
— Eu ouvi o pássaro — disse ele. — Foi como te encontrei. Segui o pássaro.
Pássaro estúpido, ela pensou. O mesmo que tinha quase causado sua morte. Pelo menos tinha feito alguma coisa boa.
De repente, Isla ficou cansada, sua energia se desfazendo t?o facilmente quanto seu vestido. Suas pálpebras estavam pesadas, e ela sorriu. Deitou-se no sofá, sua cabe?a contra a perna dele. A bebida fez sua mente girar atrás dos olhos e ela gemeu.
— Minha cabe?a está cheia de mel — disse, porque era exatamente o que parecia.
Oro riu, e foi uma surpresa t?o grande que ela desejou que seus olhos abrissem só para ver se era verdade.
Isla acordou quente. O vinho ainda ofuscava sua mente, mas agora parecia mais uma névoa do que a tempestade da noite anterior. Ela se lembrava de peda?os da celebra??o. De Celeste vindo atrás dela. De ter notado os guardas. De ter bebido o vinho. Do caminho até o castelo. De ter rasgado suas roupas. Seus olhos se abriram.
Sua cabe?a estava no colo de Oro, sua bochecha contra a perna dele. Ele estava encostado no sofá, exatamente como ela se lembrava.
Só que ele dormia.
Ela se perguntou o que, em mil reinos, eles colocavam no vinho. E soube por que Terra e Poppy a impediram de beber. Lembrou-se de sua conversa na noite anterior e estremeceu. Suas perguntas tinham sido t?o descaradas, mas Oro tinha respondido, n?o tinha?
Há quanto tempo eles estavam dormindo? Ela se virou para a sacada. As cortinas estavam fechadas, nenhuma luz atravessava o pequeno v?o entre elas. Noite, ent?o. O que significava que lá embaixo, nos jardins, a festa ainda acontecia.
Oro parecia mais tranquilo do que ela jamais o vira. Quase doeu ter que cutucá-lo, mas ele tinha que participar do Carmel pelo menos pelas últimas horas. Ele se assustou, a m?o subindo rapidamente em defesa, quase agarrando Isla pela garganta. Seus olhos se arregalaram por meio segundo quando ele a viu à sua frente na escurid?o. Ent?o se endireitou e baixou a m?o.
— Você pegou no sono — disse ela. — Obrigada… obrigada por ficar comigo. Me desculpe, acho que você perdeu parte da… festa.
As sobrancelhas de Oro se juntaram um pouco, e Isla se perguntou se ele tinha esquecido. Parecia melhor. As olheiras roxas sob seus olhos estavam mais suaves, seu queixo mais forte.