Lightlark (Lightlark, #1)(100)



— Você n?o sabe a verdade, Selvagem — disse ela. — Mas, mesmo se soubesse… — Ela sorriu. — Cadáveres n?o podem falar. E cadáveres n?o podem quebrar maldi??es, podem?

Com isso, Cleo sorriu antes de desaparecer na caverna gelada.

O tempo passa diferente quando você está morrendo, percebeu Isla. Os segundos eram longos e os minutos, assobios intermináveis do vento. Poderiam ter se passado horas ou poucos instantes, mas logo a dor de centenas de facadas em suas costas aliviou. O gelo havia congelado a dor, assim como tinha abafado o pouco de calor que sua roupa havia fornecido.

Ela se lembrou da primeira vez em que havia se transportado para o reino Lunar. Como ela havia odiado. O gelo e a paisagem coberta de neve pareciam lindos, mas eram como mordidas. Mosquitos por todo o seu corpo. Ela ficou por apenas alguns minutos, tempo suficiente para assistir à maré da lua cheia engolir um navio inteiro.

Ela nunca pensou que algo t?o simples e natural como o frio seria o que acabaria com ela. Talvez uma maldi??o ou uma lamina no cora??o, mas nunca o frio.

Primeiro, Isla ficou triste. Depois, aterrorizada.

E ent?o com raiva de novo.

Cleo estava certa… Ela era uma tola. Tinha seguido Lunar sem um plano, desesperada para conseguir respostas. E o cora??o.

E vingan?a.

Ela retirou todas as palavras que havia dito a sua m?e, chamando-as de volta do céu, puxando suas ora??es para si. Se ela tivesse poderes, talvez pudesse levantar um dedo e acessar a rocha abaixo do gelo. Ou uma árvore. Ou chamar um animal que a ajudaria a se libertar.

Sim, é culpa sua, ela disse em sua cabe?a. Se eu morrer, a culpa é sua. Que tipo de Selvagem se apaixona, sabendo o pre?o? Isla se perguntou como a m?e estaria agora. Uma vers?o mais velha de si mesma, sup?s. Depois que um governante tinha filhos, come?ava a envelhecer como devia, parecendo mais e mais velho conforme a família crescia. Cada família só tinha acesso a certa quantidade de poder. Após as maldi??es, a ilha e os reinos enfraqueceram, mas, de certa forma, algumas pessoas, ao perderem suas famílias, se tornaram mais fortes.

Isla n?o tinha família. E era fraca mesmo assim.

Sozinha.

N?o… sozinha n?o.

O colar. Grim disse a ela para tocá-lo sempre que precisasse dele. Ele poderia salvá-la. Suas m?os estavam longe demais, era impossível soltá-las do gelo, mas seu queixo, talvez ela pudesse usá-lo para encostar na corrente…

Um som do fundo de sua garganta ecoou contra as montanhas ao redor enquanto ela se contorcia, os nervos na base do pesco?o pulsando de dor. Ela inclinou a cabe?a o máximo que p?de, e ela latejava.

Mas com o gelo que Cleo tinha prendido sua garganta, isso n?o era o suficiente.

Ela caiu, a cabe?a batendo na parte de trás da montanha. Isla mal processou a dor. Mesmo que pudesse tocar o colar, Grim n?o podia sair à noite, ela se deu conta. Só conseguiria alcan?á-la pela manh?.

E ela já estaria morta ent?o.





CAPíTULO QUARENTA E TRêS


MENTIRAS





Arespira??o quente soprava contra sua bochecha. Ela ouviu o gelo quebrando. Alguém batia uma lamina contra ele. Cortando através do gelo para salvá-la, como se estivesse esculpindo uma estátua.

Isla n?o conseguia abrir os olhos. Eles tinham congelado, como o resto de seu corpo. Seus cílios estavam colados. Embora ela n?o pudesse ver, sabia que ainda era noite, pois o ar estava ainda mais frio.

Seus lábios tentaram se separar, para agradecer a quem a libertava, mas eles estavam selados, unidos pela geada. Quem quer que fosse, batia sua arma com for?a contra o gelo, repetidamente, as vibra??es percorrendo seus ossos. Iria acertá-la se n?o tomasse cuidado.

— é ela, n?o é? — disse uma voz. Era perversamente profunda e entretida.

Outra voz.

— Olha o rosto dela. Claro que é. — Ela sentiu algo afiado contra a bochecha. Uma lamina? N?o, uma unha. Longa. — Faremos um caldo com seus ossos que vai nos encher de poder. Vamos queimar o cabelo dela e inalar a fuma?a para ficarmos lindas novamente.

Isla prendeu a respira??o.

A primeira voz disse:

— Ela está acordada, n?o está? Acha que consegue nos escutar?

— N?o me importo. Onde está Thrayer? Este gelo n?o está querendo quebrar.

Algo farfalhou nas proximidades. Ent?o:

— Estou aqui. Vocês já a encontraram desse jeito?

A primeira gritou.

— Presa como uma formiga no mel.

— Bom. Muito bom…

O gelo ficou quente, transformando-se em água. Isla escorregou pela lateral da montanha, caindo em sua base. Mesmo que seu corpo estivesse livre, ela n?o conseguia mover um músculo, nem mesmo para alcan?ar seu pesco?o.

Alguém a agarrou por baixo dos ombros e a ergueu.

Quem eram? Canibais que iriam assá-la no espeto e devorar sua carne carbonizada?

Estava t?o frio que a promessa do calor era quase bem-vinda.

Quem quer que fossem, um Lunar estava os ajudando. Alguém tinha descongelado o gelo.

Carregaram-na pela floresta. Ela podia ouvir aquele pássaro ridículo que havia denunciado sua presen?a. O pássaro de Cleo. Ele a estaria observando? Ela imaginou que a governante Lunar sentiria muito prazer em vê-la assada viva.

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