Lightlark (Lightlark, #1)(3)



Você é nossa única esperan?a...

Ela os ouviu antes de vê-los. Entoando cantos antigos, batendo suas laminas como instrumentos musicais. O controle dos Selvagens sobre a natureza estava em plena exibi??o. Flores desabrochavam e se espalhavam pela varanda, pelo corredor, parando somente quando alcan?avam os seus pés. Elas cresciam exponencialmente, duplicando-se repetidas vezes em uma po?a de pétalas, subindo pelos tornozelos. De acordo com a lenda, mil anos antes, os Selvagens conseguiam fazer crescer florestas inteiras apenas com o pensamento, mover montanhas com o movimento das m?os.

Agora, centenas de anos após a maldi??o e passado tanto tempo longe do poder da ilha, suas habilidades haviam diminuído para nada além de alguns truques bobos.

Isla caminhou cuidadosamente sobre as flores até o fim das paredes do castelo e ficou de frente para as centenas de Selvagens que a aplaudiam.

As árvores acima floresceram cerejas, amoras e flores vermelho-sangue, que caíam sobre a multid?o como uma chuva colorida. Os animais saíram da floresta e se juntaram ao grupo, sentando-se ao lado de seus companheiros. Os poderes dos Selvagens variavam pelo domínio da natureza e muitas vezes incluíam a afinidade com animais. Terra tinha uma grande pantera chamada Sombra com quem conversava com a mesma facilidade com que se comunicava com Isla. Poppy tinha um beija-flor que gostava de se aninhar em seu cabelo.

Quando Isla assentiu, a multid?o ficou em silêncio.

— é uma honra representar nosso reino neste Centenário.

O cora??o de Isla acelerou, um tambor ressoando em seu peito. Ela olhou para a multid?o, para os rostos belos e esperan?osos. Alguns Selvagens usavam trajes feitos de retalhos de tecido entrela?ados com folhas e videiras. Outros usavam somente espadas penduradas nas costas. Alguns tinham acabado de se alimentar, os lábios sujos de um vermelho profundo. Isla encarou seu povo e fez o possível para n?o tremer. Para n?o deixar a voz falhar, ou gaguejar, ou levantar dúvidas, por um momento sequer, do motivo pelo qual sua governante muitas vezes se escondia atrás das grossas paredes de seu castelo. Por que criados eram proibidos de entrar em seus aposentos. Ela tentou n?o se perguntar quantos desses Selvagens tinham ouvido aquelas mesmas palavras cem anos antes, vindas de uma governante diferente; quantos deles ainda restavam depois da série recente de mortes. Ela fez uma promessa, porque era isso que seu povo queria. Alguém que os tranquilizasse. Que demonstrasse for?a.

— Prometo quebrar nossa maldi??o… de uma vez por todas.

Eles tinham todo o direito de estar preocupados. O fracasso de Isla os condenaria por pelo menos mais um século. Já eram quatro Centenários fracassados. Isla cerrou os dentes, esperando que sua inseguran?a fosse notada; esperando que estivesse errada quanto ao que eles queriam.

Mas o ar da manh? incendiou-se com gritos e laminas erguidas. Pássaros cantavam das copas das árvores e o vento farfalhava pelas folhas como um rugido. Aliviada, Isla desceu os degraus cobertos de pétalas, a natureza florescendo a seus pés, enquanto a multid?o criava uma passagem em dire??o às árvores gêmeas mais antigas.

As raízes se ergueram no ar, depois se entrela?aram, formando uma arcada imponente, redonda como uma lupa. O outro lado da floresta a esperava além, seguro e familiar. Mas n?o era para lá que Isla estava indo. Engoliu em seco. Ela passara a vida toda se preparando para aquele momento. As m?os de Terra e de Poppy encontraram seus ombros.

Isla atravessou o portal que só funcionava uma vez a cada cem anos. As últimas palavras ditas para as tutoras ainda estavam frescas em sua mente: Vou seguir suas ordens.

E desejou que n?o tivessem sido uma mentira.





CAPíTULO DOIS


A ILHA





O portal se fechou atrás dela, o silêncio sufocando os aplausos. Apenas sua respira??o irregular permaneceu. Ela deu um passo à frente, e uma luz como a de mil estrelas e sóis moribundos a cegou.

Isla se desequilibrou para o lado e um bra?o se estendeu para segurá-la.

— Abra os olhos — disse uma voz, sombria e marcante como a meia-noite.

Isla nem tinha percebido que estavam fechados. Ela piscou, o mundo tremeu e depois se firmou; esse portal era muito pior do que o da varinha estelar.

A express?o do homem que a olhava era de divertimento. E, de algum jeito, parecia familiar. Ele era t?o alto que Isla teve que levantar o queixo para encontrar seus olhos, escuros como carv?o. O cabelo era como tinta derramada em sua testa pálida. Um Umbra, sem dúvida. O que significava...

— Obrigada, Grimshaw — Isla disse com firmeza.

Ela rapidamente se endireitou e olhou em volta, torcendo para que ninguém a tivesse visto trope?ar. Ela quase podia ouvir Poppy e Terra em seus ouvidos, repreendendo-a.

Mas, além de Isla e do homem, o penhasco estava vazio. Ela se virou, e um pequeno som sufocado arranhou o fundo de sua garganta. O mar rugia furiosamente centenas de metros abaixo. Ela quase se juntou às rochas e acabou com o plano de salvar seu povo antes de sequer o Centenário ter come?ado.

Quase acabou com todos os seus planos.

— Isso teria sido inconveniente. — O governante Umbra sorriu, revelando uma única covinha, completamente deslocada em seu rosto de fei??es marcadas e cruéis. — Pode me chamar de Grim, Isla.

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