Lightlark (Lightlark, #1)(6)
Multid?es os esperavam na entrada do castelo. Estelares. Lunares. Etéreos.
Na noite das maldi??es, quinhentos anos antes, todos os seis governantes pereceram. Seus poderes e responsabilidades foram transferidos para os herdeiros, e todos eles, exceto o novo rei, fugiram da instabilidade da ilha para criar novas terras, a centenas de quil?metros da ilha e uns dos outros.
Alguns súditos permaneceram em Lightlark.
Certa vez, Isla perguntou à anci? Selvagem por que alguém ficaria na constante tempestade amaldi?oada.
O poder está no sangue e nos ossos da ilha, ela dissera. Lightlark prolonga nossas vidas, nos dá acesso a um poder muito maior do que temos. E, mais do que isso, para muitos... Lightlark é um lar.
Nenhum Selvagem permaneceu. Ela n?o receberia ajuda de seu povo ali.
Estava sozinha.
— N?o se preocupe — disse uma voz profunda e zombeteira ao seu lado. — Eu também n?o tenho f?s.
A multid?o assistiu a Grim com uma mistura de medo e desdém, e Isla estudou as rea??es dele com cuidado. Ele parecia a noite personificada, suas roupas como sombras transformadas em seda. Se os Selvagens eram desprezados em Lightlark, os Umbra pareciam ser odiados por completo. E, segundo as aulas de Terra e de Poppy, nunca haviam sido totalmente aceitos na ilha. Eles tinham a própria terra, uma fortaleza que mantinham há milhares de anos.
A guerra entre Umbra e Lightlark também n?o ajudou.
Isla n?o encontrou o olhar dele, embora sentisse seus olhos nela. Era irritante como sua pele parecia inexplicavelmente elétrica.
— Tenho certeza de que você recebe aten??o mais que suficiente em casa.
Isla sorriu educadamente para a multid?o, testando a rea??o das pessoas. Alguns retribuíram o gesto com cautela. Outros claramente recuaram ao vê-la, a sedutora que devorava cora??es. N?o ficou surpresa. Tudo o que representava era proibido. Uma mulher Lunar cobriu os olhos do filho e fez um gesto no ar, como se estivesse afastando um dem?nio.
— Recebo — ele admitiu. — Ainda assim, continuo... insatisfeito.
Isla o ignorou. N?o ia jogar esse jogo com ele, seja lá qual fosse. Tinha o próprio jogo com que se preocupar.
No interior do castelo, parecia que um sol havia explodido e banhado as paredes com seu brilho — uma ode aos Solares que tinham construído o lugar. Tudo era dourado. A luz amanteigada do sol se derramava pelas longas janelas, a claridade cobria o hall e refletia no piso liso e reluzente. Isla apertou os olhos como se ainda estivesse do lado de fora. Um fogo furioso queimava bem acima deles em um candelabro, com chamas no lugar dos cristais.
O governante Solar n?o estava lá para cumprimentá-los. Mesmo se quisesse — o que Isla duvidava —, ele n?o poderia. Solares foram amaldi?oados a nunca sentir o calor do sol ou ver a luz do dia, for?ados a evitar o que lhes dava poder. O rei de Lightlark estava preso na escurid?o de seus aposentos, só podendo aparecer à noite. Naquilo, Isla sup?s que eram semelhantes. Ela também havia passado muito tempo presa.
Uma mulher em prata Estelar curvou-se diante deles. Atrás dela, um pequeno grupo de funcionários copiou seu movimento. Cada governante recebia um assistente por todo o Centenário.
— Será um prazer acompanhá-los a seus aposentos.
Cada um seria levado para partes completamente diferentes do castelo, bem longe um do outro. Isla n?o sabia o que pensar sobre isso. Intencional. Cada detalhe no Centenário era intencional, era isso que Terra havia lhe ensinado.
Uma jovem Estelar caminhou lentamente na dire??o de Isla, meio de lado, como uma crian?a se aproximando de uma cobra enrolada.
— Minha senhora — disse ela, a voz t?o baixa que Isla teve de se inclinar para escutá-la, fazendo a garota se retrair. Isla resistiu à vontade de revirar os olhos. A garota realmente pensava que iria ter seu cora??o devorado no meio do hall de entrada? Seu povo era selvagem, mas eles n?o eram animais. — Venha.
— Isla — disse para as costas rígidas da garota enquanto ela se afastava, apressada, com grande dificuldade. Isla provavelmente precisaria da ajuda da garota em algum momento, o que significava que precisava encontrar formas de ganhar sua lealdade. — Pode me chamar de Isla.
— Como desejar — a garota murmurou.
Ela levou Isla por um extenso conjunto de escadas que atravessavam o centro do castelo e por um emaranhado de corredores que se conectavam como pontes. Mas, ao contrário de seu palácio no reino Selvagem, este se tornava cada vez mais fechado quanto mais ela se aprofundava. Era como um labirinto em uma caverna. Ou uma pris?o. De repente, ela imaginou o rei como uma fera antiga, presa no escuro. Perdido no labirinto de seu castelo. Elas chegaram a um trecho sem uma única janela, os corredores eram mais frios, as paredes mais grossas.
A garota parou em frente a uma antiga porta de pedra que abriu com toda a for?a que conseguiu reunir.
Alguém tinha conseguido plantar uma árvore bem no meio do quarto, um carvalho com flores rosadas e frutos que Isla n?o reconheceu, suas raízes fincadas no ch?o de pedra. Hera cobria o teto em padr?es bonitos que iam até sua cama, encostada na parede coberta de folhas até o ch?o.
Havia mais. Isla atravessou o c?modo e entrou em uma ampla varanda arredondada que se projetava sobre o mar. Parecia perigoso. Ondas se agitando lá embaixo. O castelo era uma crian?a curiosa empoleirada no topo da montanha, inclinando-se demais na borda.