Lightlark (Lightlark, #1)(82)



Mas por que agora? Por que no baile?

Ela estendeu a m?o para um grupo que estava agarrado ao que restava do ch?o, uma ponte sangrenta serpenteando pela sala. Ela conseguiu puxar de volta uma das pessoas. A outra caiu pelas rachaduras.

Suas laminas n?o podiam fazer nada. Sua capa podia protegê-la de alguns detritos, mas era inútil contra as grossas lajes de mármore chovendo ao redor deles.

Se ela tivesse poderes, poderia salvá-los. Poderia controlar as vinhas decorando a sala, usá-las para trazer as pessoas de volta à seguran?a.

Ela n?o tinha habilidades, mas Oro, sim. Ele precisava se levantar, podia impedir tudo isso.

Isla gritou seu nome, mas ele permaneceu curvado, a testa agora quase encostada no ch?o. O rugido abafou sua voz. Móveis caíram do teto. Ele estava do outro lado do sal?o de baile. Parte do espa?o entre eles já tinha caído, o resto se desfazendo sem aviso.

Isla xingou enquanto tirava os sapatos e corria em dire??o ao rei. Ela saltou sobre o maior buraco, peda?os pontiagudos de escombros se encaixando em seus calcanhares ao aterrissar. A dor era um sussurro em compara??o com os espinhos que havia arrancado de suas costas. Se tinha sobrevivido a isso, poderia sobreviver a qualquer coisa. Ela se esquivou de uma cadeira que quase a esmagou, empurrando também um jovem Lunar para longe de seu caminho e ganhando um olhar de repulsa por ter ousado tocá-lo.

Da próxima vez vou deixar que te esmague, ela pensou enquanto se agachava debaixo de um peda?o do teto até finalmente alcan?ar o rei.

— Oro.

Ela se ajoelhou diante dele, da mesma forma que ele havia feito no ch?o da floresta, cheio de farpas e espinhos.

Ele n?o notou sua presen?a.

Nada de novo, mas isso n?o tinha a ver apenas com ela.

Ela o agarrou pelos ombros e disse:

— Levante-se! As pessoas est?o morrendo. Elas precisam de você!

Oro levantou a cabe?a o suficiente para encontrar seu olhar. Seus olhos estavam vazios, como se cada grama de energia tivesse sido drenado. Outro tremor sacudiu no ch?o, e ele rosnou, seus dedos afundando mais no mármore. A dor deve ter sido insuportável para deixar o rei de joelhos.

— Por favor — ela implorou.

A poucos metros de distancia, rochas rolaram em uma pilha que esmagou metade do grupo que Azul estava tentando proteger. Ele correu para arremessar os escombros com seu vento, mas sangue cobriu a pedra. Era tarde demais.

Oro n?o moveu um centímetro, mas Isla o ouviu dizer “Vá embora” por entre os dentes.

N?o. Quando Isla se machucou e exigiu que Oro fosse embora, ele ficou. Ela n?o iria. N?o até que ele fizesse tudo isso acabar.

Isla segurou sua camisa e o empurrou contra a parede com todas as suas for?as, tirando os dedos do ch?o. Ent?o come?ou a gritar bem na cara dele.

— Você pode estar morrendo, mas ainda n?o está morto, seu desgra?ado miserável. Agora levante-se e fa?a alguma coisa antes de deixar que o sacrifício do seu irm?o, e tudo o que todos nós perdemos, seja por nada!

Oro n?o encontrou seu olhar ou se levantou.

Mas, com um gemido que sacudiu seus ombros, ele se inclinou para a frente, passando por ela, e suas m?os perfuraram totalmente o mármore. Energia emergiu de seu toque, enchendo a sala.

For?ando-a a parar.

Ent?o ele caiu no ch?o.

Gritos e pedidos de ajuda e últimos suspiros se tornaram uma sinfonia que ultrapassou os violinos e harpas que jaziam em lascas no canto da sala, junto com a maior parte da orquestra.

Quando Celeste a encontrou e elas saíram correndo do sal?o, Isla pensou nas palavras do rei, que este Centenário n?o era simplesmente outra chance de quebrar as maldi??es…

Mas que talvez fosse a última chance.

Dezenas de pessoas estavam mortas. Aquela ala do castelo foi reduzida a pouco mais do que escombros. E ficaria pior, Isla sabia, se eles n?o quebrassem as maldi??es em breve.

Ela havia feito uma alian?a com o rei. Os dois tinham um plano para encontrar o cora??o. Grim, Celeste e Oro haviam prometido protegê-la.

Mesmo sem o desvinculador, parecia quase possível sobreviver ao Centenário e quebrar as maldi??es antes que ele terminasse.

Mas, quando as portas quebradas do sal?o de baile se fecharam e o gritos foram engolidos, Isla se perguntou se a ilha ao menos duraria o resto dos cem dias.





CAPíTULO TRINTA E QUATRO


ORO





As consequências do ocorrido no baile deixaram a ilha fraturada de várias formas. Parte do castelo estava em ruínas. As ruas da pra?a estavam t?o vazias que o vento assobiava por elas. As vitrines das lojas estavam fechadas, e suas paredes n?o se abriram à noite. Os ilhéus estavam com medo de deixar suas casas, mais ainda suas ilhas. Houve sussurros de que a tragédia no baile fora obra de Grim, após sua demonstra??o semanas antes ter mostrado a mesma coisa acontecendo. Só que a tragédia n?o tinha sido uma ilus?o.

O Continente tornou-se um lugar apenas para espectros e governantes.

Eles pararam de fingir. Cleo abandonou todas as pretens?es de trabalhar com Celeste e se mudou para sua ilha, quebrando a tradi??o. Oro, de forma atípica, adiou em alguns dias a excurs?o que fariam, precisando lidar com os destro?os e impedir os nobres de se rebelarem. A tens?o estava cada vez pior.

Eles sempre souberam que o Centenário tinha uma linha do tempo. Um relógio de cem dias.

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