Lightlark (Lightlark, #1)(98)



A Lunar ainda n?o tinha ido atrás dela… mas isso logo aconteceria.

às vezes, tarde da noite ou de manh? bem cedo, Isla escapava do palácio Selvagem e corria. Nos últimos tempos, essa era a única atividade que tirava de sua cabe?a as imagens de seu reino moribundo. Todos os dias ela ia mais longe, arriscando aventurar-se profundamente na floresta. Até o penhasco. Até mesmo próximo aos arredores do castelo.

Pelo menos isso a fazia sentir alguma coisa.

Ela se sentia inútil, n?o estava fazendo nada para vencer.

Mas por onde come?aria? Oro, de propósito, n?o tinha compartilhado os lugares restantes na Ilha da Lua, onde a escurid?o encontrava a luz. Ela n?o poderia procurá-los sozinha. Mesmo que soubesse onde ficavam esses lugares, Oro e Cleo, provavelmente, já tinham olhado. O que significava que eles estavam com o cora??o… ou próximos de encontrá-lo.

A culpa pesou em seus ombros, formando uma grande pilha, pesando cada um de seus passos. Ela havia falhado com seu povo. Falhado com suas tutoras.

E falhado com Juniper. Cleo tinha matado o taverneiro por sua causa, por conta da informa??o que ele estava disposto a compartilhar.

O que significava que era uma pista importante.

Isla n?o permitiria que a morte de Juniper fosse em v?o. E, enquanto corria pela floresta, sentiu uma pontada de esperan?a.

Se Cleo e Oro já tivessem encontrado o cora??o, a governante Lunar n?o teria se dado ao trabalho de sabotar Isla. Algo dera errado em seus planos… o que significava que talvez ainda houvesse uma chance de consertar tudo.

A ilha era uma massa fina, desfazendo-se dia após dia no mar, mas, ao entardecer, era uma beleza. O sol era como uma gema escorrendo, espalhando dourado e laranja e vermelho no céu, desesperado para deixar sua marca. As nuvens eram algod?o embebido em tinta rosa.

Isla assistiu ao p?r do sol de um penhasco, as m?os nos joelhos, ofegante. Ela tinha acabado de correr por mais de uma hora. Seu cabelo estava molhado de suor, o calor do dia lembrando-a da terra dos Selvagens. Uma brisa salgada soprou sua tran?a para trás e retornou, grudando os fios em um lado de seu rosto.

Estava usando as roupas que o alfaiate confeccionara para ela durante sua primeira semana na ilha. Roupas feitas para correr e lutar. O tecido era fino, mas oferecia prote??o contra os elementos naturais. Isla tinha planejado usar essa mesma roupa para encontrar o cora??o.

Juntos.

Ela se sentou enquanto o último raio de sol mergulhava relutantemente abaixo do horizonte. Suas m?os agarraram a grama, e ela sentiu o poder correndo pelo solo, embora mais fraco que antes. Poder ao qual ela n?o tinha acesso.

— M?e — ela disse para a escurid?o que se aproximava. — N?o é sua culpa.

Ela falava com a m?e às vezes.

Isla nunca a conheceu. Foi morta pelo pai de Isla no dia em que ela nasceu, antes de ele usar a faca contra si mesmo. Ambos vítimas da maldi??o Selvagem. Sua m?e se recusou a matar seu amor, ent?o a maldi??o exigiu sangue.

E a filha deles nasceu sem habilidades.

— Eu também n?o conseguiria — ela disse baixinho.

Isla pensava nisso, às vezes. A escolha impossível. Matar um amado… ou morrer. Antes, a resposta parecia óbvia. Agora, ela sabia que jamais seria capaz de matar a pessoa que amava.

Talvez isso a tornasse mortal. Talvez a tornasse fraca.

N?o. Fraca, n?o. Um governante fraco n?o teria chegado t?o longe no Centenário sem poder algum.

— Eu te entendo. N?o te culpo… E… — A voz dela tremeu por apenas um momento antes de voltar ao normal. — E gostaria de ter te conhecido.

No momento em que voltou para a floresta, a lua era um grande olho no céu, observando-a. Isla esgueirou-se pelas sombras, mantendo-se em seu perímetro, observando o castelo do Continente através da escurid?o.

Ela sentia falta de seu quarto. Sentia falta do abrigo e da seguran?a que ele havia lhe permitido.

Isla estava prestes a voltar para a floresta do Continente quando a avistou.

Cleo.

Sua primeira rea??o foi parar e sacar a adaga, mas a Lunar n?o tinha visto Isla. Ela estava muito longe.

Enquanto Isla observava Cleo deslizar pela noite, a capa branca pálida como osso, seu medo diminuiu.

Celeste tinha raz?o. Ela havia ficado escondida por muito tempo.

Logo, ela seria for?ada a deixar o esconderijo, para o Carmel, um festival de celebra??o durando vinte e quatro horas que acontecia no septuagésimo quinto dia do Centenário. A presen?a era obrigatória, a n?o ser que ela desejasse sair oficialmente do jogo.

Ela n?o podia. N?o com o estado em que seu reino estava.

Isla seria for?ada a enfrentar Cleo na celebra??o. Parte dela se perguntava se era durante o Carmel que Oro e a Lunar planejavam matá-la. Se queriam tornar o ato dramático, um espetáculo para os ilhéus presentes. Seu cora??o disparava com o pensamento.

Ela n?o viveria mais dias com medo. Se seu destino era morrer, ela o enfrentaria com coragem.

Com o suor pegajoso na testa, Isla come?ou a seguir a governante Lunar pela noite.

Talvez ela a levasse direto ao cora??o.

Cleo percorreu o Continente, as roupas brancas brilhando na noite, iluminadas pelo holofote que era a lua. A governante Lunar se deliciava com o brilho, parando por um momento para jogar os ombros para trás e erguer o rosto para a lua. Diziam que os Lunares se tornaram o reino mais forte desde que as maldi??es foram lan?adas. Ao contrário dos Solares ou Umbras, eles ainda conseguiam acessar sua fonte de energia. E, ao contrário dos Estelares, muitos de seus membros ainda eram antigos. Sua maldi??o os afetou menos, se é que chegou a afetá-los. Milhares de Lunares morreram nas m?os do mar com o passar dos anos, sem dúvida, mas os sobreviventes n?o estavam fisicamente enfraquecidos.

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