Lightlark (Lightlark, #1)(17)
Ela mesma teria que misturar a cor certa, o que seria um desafio por si só, mas pelo menos tinha os apetrechos.
A roupa era o outro problema.
Bem depois da meia-noite, Isla saiu do castelo. Memorizou alguns pontos pelo caminho: o mosteiro com um enorme vitral, a insígnia por onde havia chegado apenas alguns dias antes, ruínas que gostava de pensar terem sido um farol, movido por raios dos Solares. Ela havia lido sobre esses lugares em um dos poucos livros que lhe permitiam ler a cada ano.
Terra entendeu logo que ela gostava de ler, ent?o usou livros como incentivo. Se Isla n?o reclamasse dos dedos machucados ou do corpo dolorido durante o treinamento, se dominasse as técnicas de luta, se acertasse as estrelas de arremesso nos alvos, era recompensada com uma ida à biblioteca.
Isla apreciava os livros, anotava suas passagens favoritas no papel e sentia uma espécie de luto quando era obrigada a se desfazer deles em troca de outros.
Apenas um livro de cada vez, sua tutora dizia. N?o seja gananciosa.
Ela parou bem perto da pra?a. A surpresa a deixou imóvel.
O mercado se transformou depois que o sol se p?s. A maioria das lojas estava fechada, as janelas escuras, mas as que estavam abertas estavam... abertas. Exatamente como a anci? Selvagem havia descrito.
De alguma forma, algumas das lojas tinham sido viradas do avesso, as paredes desdobrando-se nas ruas, sem portas à vista, o teto esticado como um leque. Clientes andavam livremente dentro de bares e, momentos depois, fora deles, segurando copos transbordando de bebidas espumantes. Etéreos dan?avam no meio da rua ao som da música que se espalhava pela noite, bateria e viol?o e vozes que for?avam a escurid?o a obedecer a seu ritmo agitado. Os Solares eram manchas douradas em todos os lugares, aproveitando as horas que podiam estar lá fora.
A pra?a estava animada e confusa, mas Isla se lembrava das ruas por onde havia passado mais cedo. Ela tomou um caminho entre as lojas, escolhendo becos em vez de ruas principais, seguindo as fileiras de tochas acesas até que chegou à porta dos fundos do alfaiate.
Todas as luzes estavam apagadas. Todas as janelas estavam trancadas.
Depois de confirmar que n?o havia outro jeito de entrar, ela se ajoelhou e tirou um de seus grampos. Em uma viagem com a varinha para a terra nova dos Etéreos, a garota havia seguido um grupo de ladr?es, curiosa. Tinha assistido das sombras enquanto eles usavam grampos e agulhas curvas para destrancar uma fechadura.
Foi uma habilidade útil para invadir os quartos de Poppy e Terra. Para escapar de seu quarto também.
A porta se abriu e Isla juntou suas ferramentas, tomando cuidado para n?o deixar nada para trás. Ela apertou os olhos na escurid?o, sem se atrever a acender qualquer uma das luzes. Uma alfaiataria n?o seria normalmente um lugar visado por ladr?es, portanto os guardas n?o estariam prestando particular aten??o. Mas quem sabe quanto tempo iria levar para alguém aparecer no beco e vê-la pela janela?
Rápido. Seus olhos se concentraram nas cores de que precisava, todos os tons dos reinos de Lightlark, exceto os Estelares, que Celeste resolveria.
Branco. Ela pegou um vestido Lunar simples, de manga comprida e gola alta.
Azul-claro: um vestido com cal?a que, aparentemente, deveria ser usada por baixo, algo que tinha visto alguns Etéreos usarem no mercado.
Dourado.
N?o havia dourado na loja. Refletindo naquele momento, realmente n?o se lembrava de ter visto a cor na loja durante sua estada.
Os Solares n?o usavam o mesmo alfaiate que o restante dos reinos?
Por que n?o?
Uma voz na janela fez com que ela se deitasse no ch?o. Dois amigos estavam encostados do lado de fora da loja, rindo alegremente e brindando. Ela se esgueirou contra a parede e ficou encostada ali, decidida a n?o fazer barulho.
Meia hora se passou antes que os homens saíssem, e logo depois Isla se foi, tomando o cuidado de fechar a porta ao sair, torcendo para que o alfaiate pensasse que havia se esquecido de trancá-la.
Carregada de seda, ela voltou para o castelo, um passo mais perto do desvinculador.
CAPíTULO SETE
DUELO
No quinto dia do Centenário, o convite para a primeira demonstra??o chegou. O papel estava carbonizado, preto, chamuscado. Apenas algumas palavras eram visíveis, gravadas no papel com uma faca.
Esteja pronto para o duelo.
Isla n?o p?de deixar de sorrir. Grim tinha, sim, lhe dado uma ajuda.
Mas por quê?
O horário do evento estava rabiscado na parte inferior: seria dali a uma hora. Em vez de ter que correr para conseguir uma arma, Isla já havia comprado a espada perfeita. Uma que era leve o suficiente para empunhar sem esfor?o, mas afiada e firme para um golpe certeiro. Tinha levado horas escolhendo na loja de armas Estelares. A metalurgia do reino era realmente inigualável... embora ansiasse pela familiaridade de uma de suas próprias laminas.
As roupas do alfaiate haviam chegado no dia anterior; o homem trabalhava a uma velocidade extraordinária. O compromisso com seu ofício só fez Isla se sentir pior por tê-lo roubado.
Ao encontrar o desvinculador, estarei salvando o alfaiate e seu reino, Isla convenceu-se, para neutralizar a culpa.
Um dos vestidos era no mesmo tom azul-escuro de safiras, com cristais em forma de cacos nas laterais. Outro era de um roxo em um tom de lavanda com o corpete decotado e cal?as bem justas. Para finalizar, uma capa brilhante presa ao redor da cintura, criando a ilus?o de uma saia. Tinha outro, verde-esmeralda, justo e leve, e transparente o suficiente para fazê-la corar. E um deles, ela descobriu, tinha bolsos.