Lightlark (Lightlark, #1)(24)



Seu olhar ficou mais atento, estudando cada centímetro do novo vestido carmim dela. As al?as finas. O pequeno peda?o de seda que era o corpete. A cintura, onde o vestido ficava bem apertado antes de cair em mais camadas de tecido agarradas ao corpo. Luvas até os cotovelos, da mesma cor e tecido do vestido, algo que raramente usava, mas que cal?ou naquele dia, mesmo que apenas para cobrir um pouco mais o corpo.

Ele a olhava de forma descarada, impaciente, como se fosse importante guardar na memória cada centímetro de pele. Ela nunca tinha sido examinada com tal minúcia.

Grim queria envergonhá-la?

Ou seduzir a sedutora?

Seus olhos escuros pareceram ficar ainda mais sombrios quando encontraram os dela, e ele disse:

— N?o tenho certeza do que gosto mais. A forma como você segura uma espada... ou a forma como seu vestido te segura.

Se olhares matassem, o Umbra estaria morto e Isla teria quebrado a primeira regra do Centenário. Os lábios de Grim formaram um sorriso dissimulado em resposta a seu olhar.

Isla deu um passo na dire??o dele, sentindo-se corajosa. Ainda n?o tinha certeza do que Grim pretendia, mas sabia que ele gostava quando ela revidava.

— E eu n?o sei do que gosto mais. De relembrar a imagem da minha espada contra a sua garganta... ou de pensar em como seu cora??o ficaria no meu prato.

Os olhos escuros de Grim brilharam; ele estava se divertindo.

— Cuidado, Devoradora de Cora??es — ele sussurrou, se aproximando dela, perto demais. — Talvez eu mesmo entregue-o a você.

Durante aqueles instantes, a sensa??o era que havia apenas ela e Grim no sal?o.

Aplausos a trouxeram de volta para a multid?o. Isla se virou para ver que Azul havia se posicionado na cabeceira de uma mesa, já com os outros governantes.

— Bem-vindos — disse ele. — Se todos puderem tomar seus lugares, vamos come?ar.

Isla correu para a mesa, grata por uma desculpa para se afastar do Umbra. Infelizmente, os dois últimos lugares eram um ao lado do outro. ótimo.

Era uma demonstra??o, n?o um jantar elaborado, ainda que a comida estivesse sendo servida por dezenas de lacaios. Sua mente come?ou a pensar nas possibilidades. Ela estava alerta, estudando cada detalhe, preparando-se mentalmente para qualquer prova??o que viesse a enfrentar.

Os nobres haviam se acomodado em seus assentos. Isla observou os ternos e vestidos feitos com tecidos deslumbrantes. O alfaiate devia ter passado os últimos meses bem ocupado. Ela se perguntou se ele já dera falta das duas pe?as que sumiram.

Mas a loja tinha centenas de roupas... Seria quase impossível fazer o inventário todos os dias.

Por outro lado, o alfaiate parecia profundamente comprometido com seu ofício. Talvez tivesse percebido. Será que denunciaria o roubo?

Será que suspeitaria da Selvagem que estivera em sua loja naquela mesma manh??

— Vamos come?ar — disse Azul cordialmente, com um sorriso largo.

O governante Etéreo tinha os dentes mais perfeitos e brilhantes que ela já vira. Naquela noite, usava vestes com recortes triangulares nas laterais, revelando marca??es pintadas em sua pele escura, símbolos que Isla n?o reconheceu. Alguns Selvagens se tatuavam com agulha e tinta depois de completar seu treinamento ou após feitos ilustres. Isla nunca teve permiss?o para isso. Seu corpo n?o pertencia apenas a ela, Poppy disse. Pertencia ao reino. Ela era sua representante, sua tábua de salva??o. Mesmo tendo nascido sem poderes.

— Esta noite, gostaria de celebrar as fantásticas habilidades que nos permitir?o ter sucesso no fim das maldi??es — disse Azul. — Governantes do reino, vocês nos honrariam com uma demonstra??o de seus poderes?

Isla quase deixou cair a ta?a de água.

Os olhos de Grim estavam no copo dela. Seus dedos tremiam, a água ondulava. Se estivesse certa de que suas pernas ficariam firmes, teria saído correndo do sal?o.

Ela n?o tinha poderes para demonstrar.

Grim. Ele poderia fazer as luzes se apagarem. Poderia fazê-la desaparecer, ou pelo menos provocar algum tipo de distra??o. Se ela pedisse, ele o faria. Adoraria ter uma chance de provocar o caos. E, embora suas inten??es fossem obscuras, ele a ajudara antes.

Mas Isla teria que explicar o motivo. Engoliu em seco, pesando os riscos.

Antes que ela pudesse dizer uma palavra, Azul falou:

— Grim, n?o temos um Umbra em nossa ilha há séculos. — Sua voz estava tensa. Desconfiada. — Poderia come?ar?

Grim ficou sentado por um momento, e Isla se perguntou o que aconteceria se ele simplesmente ignorasse o governante Etéreo. Finalmente, o Umbra se levantou.

Abriu a palma da m?o.

A sala mudou. De repente, havia uma centena de Grims, de pé entre cada cadeira. Todos sorrindo. O teto se abriu, assim como o ch?o, e grandes placas de pedra caíram bem na cabe?a de todos, fazendo gritos atravessarem o ar.

De repente, tudo desapareceu. A sala voltou ao normal. Havia apenas um Grim, que parecia entediado, como se a demonstra??o n?o tivesse usado nem um sussurro de seu poder.

O ambiente estava em silêncio. Alguém derrubou uma ta?a.

Isla sabia que os Umbras tinham habilidades mentais. Mas isso era maior, uma vis?o em grande escala.

Qu?o perigosa essa habilidade seria na guerra?

Ou agora, neste jogo?

Ela olhou para o rei. Oro observou Grim com olhos duros, como se sua exibi??o fosse uma amea?a. Uma declara??o do que exatamente ele era capaz.

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