Lightlark (Lightlark, #1)(25)



— Cleo, se puder — disse Azul, um pouco menos animado.

Ela precisava inventar alguma coisa. Rápido.

Terra e Poppy a prepararam para essa possibilidade. Mas o plano complicado das duas dependia de ela já ter se aproximado do rei e roubado um dos encantamentos que ele supostamente tinha em sua cole??o pessoal, uma flor selvagem capaz de se multiplicar e viver para sempre. Ela recebeu instru??es específicas para obtê-la o mais rápido possível.

Algo de que havia se esquecido completamente, concentrada no plano dela e de Celeste.

Ela nem tinha falado diretamente com o rei desde aquele primeiro jantar, e o evitara ao máximo. Talvez até demais, em desafio ao primeiro passo degradante da estratégia de suas tutoras.

Agora, o que faria?

Admitir seu segredo n?o apenas para todos os nobres, mas também para os governantes?

Ela poderia muito bem se considerar morta no segundo em que o relógio soasse a meia-noite do quinquagésimo dia. Nem mesmo Celeste poderia protegê-la de todos eles. Ela sabia.

Celeste. Isla enfim olhou para a governante Estelar, que a encarava, claramente tentando chamar a sua aten??o havia um bom tempo.

Sua express?o estava tensa, os olhos arregalados de preocupa??o.

Ela era um fardo. Sempre precisando ser cuidada, protegida.

Isla n?o sabia por que, mas sorriu de volta, tranquila, balan?ando a cabe?a de leve como se dissesse: N?o se preocupe, tenho um plano.

Embora nunca tivesse um plano próprio, n?o é? Ela só tinha seguido as estratégias dos outros. Nunca a dela. N?o de verdade.

Cleo estava de frente para a mesa agora. Levantou os bra?os de forma dramática.

Vinho vermelho como sangue se ergueu de cada uma das ta?as para o centro da sala. Ela moveu as m?os como se estivesse acariciando um animal selvagem, e do vinho surgiu um enorme tubar?o com três fileiras de dentes. Ele partiu em dire??o à multid?o, caindo do céu, sua mandíbula monstruosa se abrindo, mas, antes que pudesse alcan?ar Cleo, sua m?o se fechou em um punho e o tubar?o congelou. Os dentes se tornaram estalactites cor de malva que formaram um círculo perfeito ao redor da Lunar, afundando no ch?o. O resto transformou-se em um vapor vertiginoso.

Aplausos ecoaram pela sala, os nobres nada chateados por suas ta?as agora estarem vazias. Cleo parecia muito presun?osa enquanto voltava para a mesa.

— Celeste?

A Estelar levantou-se devagar, os ombros tensos. Isla sabia que sua amiga n?o estava nervosa, pelo menos n?o por conta de sua demonstra??o. Ela andou com cuidado até a frente da mesa, o cabelo brilhando sob as chamas do candelabro. Celeste ergueu um dedo no ar.

E a sala explodiu.

Fogos de artifício explodiram de todos os cantos, faíscas prateadas caindo como estrelas cadentes em miniatura. Eles guincharam e rugiram, voando pela sala, antes de se despeda?arem contra as paredes em manchas prateadas.

Murmúrios na multid?o, alguns estendendo a m?o para tocar a poeira estelar que caía como confete, cobrindo as mesas com purpurina. Caiu um pouco no cabelo de Isla.

Foi lindo.

Seu est?mago embrulhou, esperando que seu nome fosse chamado. Ela precisava de um plano... uma saída.

— Minha vez, suponho — disse Azul, sorrindo bem-humorado.

O Etéreo se levantou com gra?a, a capa ondulando atrás dele. Azul girou o punho em dire??o ao teto, e o ar come?ou a ondular. Três nuvens parecidas com algod?o-doce apareceram, ficando maiores e maiores, até que suas extremidades se tocassem. Elas escureceram, ent?o acenderam com raios de luz, nuvens de tempestade. Um trov?o ecoou pela sala, antes de as nuvens se acalmarem e ficarem brancas como pergaminho. A plateia olhou para cima, maravilhada, enquanto elas flutuavam, se aproximando de suas cabe?as. Seus dedos as atravessaram. Quando as nuvens alcan?aram a mesa, até mesmo Isla levantou a m?o enluvada, tentando sorrir enquanto o pavor fervia em sua barriga.

Ela precisava pensar... Ela precisava de ajuda...

Azul respirou fundo e soprou com tanta for?a que os cabelos de todos voaram para trás, suas capas batendo atrás das cadeiras. E as nuvens sumiram.

O Etéreo virou-se para ela e sorriu.

Agora n?o havia saída.

O cora??o de Isla era um tambor dentro do peito quando Azul disse seu nome.

Impotente, impotente, impotente. A palavra era um canto, uma provoca??o, t?o alto em sua mente que ela se perguntava como ninguém mais estava escutando.

Comparada a todas as demonstra??es dos outros governantes, ela se sentiu t?o inútil e insignificante quanto um peda?o de carv?o em meio a diamantes. Mas ela ainda precisava fingir por mais algumas semanas, tempo suficiente para encontrar o desvinculador.

Celeste n?o podia ajudá-la. Suas tutoras n?o podiam ajudá-la. Grim n?o podia ajudá-la.

Tinha que encontrar sua for?a.

Isla se levantou, sentindo os olhos de todos nela como as luzes de um palco. Os nobres sussurravam, repulsa e medo estampados nos rostos maquiados. Ela apertou os lábios, seu plano um quebra-cabe?a malfeito ainda se formando. Ent?o sorriu, tentando parecer confiante, embora seus joelhos tremessem por baixo do vestido.

— Rei? Poderia auxiliar na minha demonstra??o?

Oro piscou para ela, sem entender. Agora, nos olhos quase sempre sem vida, ela leu muitas coisas. Curiosidade. Irrita??o. Talvez até preocupa??o. Tudo isso sumiu em um instante. Estava inexpressivo no momento em que se levantou, muito mais alto que ela, oferecendo a m?o.

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