Lightlark (Lightlark, #1)(26)



Tinha sido tolice chamar a sua aten??o depois do duelo, depois de ele ter parecido t?o desconfiado. Mas ser ousada era a única maneira de passar por aquela demonstra??o sem que todos questionassem suas habilidades.

Ela conduziu o rei para a frente da mesa, apertando forte sua m?o, sinal de nervosismo.

— Fique aí — ela ordenou.

Ent?o, tentando n?o olhar para os rostos que mostravam indigna??o com a audácia em dirigir um comando ao rei, t?o famintos por seu fracasso como pela carne vermelha nos pratos, ela caminhou até o lado oposto do sal?o.

Lentamente, desejando que seus dedos n?o tremessem, Isla retirou seus muitos anéis e os deixou na mesa mais próxima, diante de um Solar que ofegou com a riqueza empilhada à sua frente. Ela despiu as luvas e ficou segurando uma delas. Com a outra m?o, tirou um grampo do cabelo.

N?o era um grampo qualquer. Uma estrela de arremesso, disfar?ada como acessório.

A sala estava em silêncio, ent?o a voz de Cleo ressoou quando disse:

— N?o sabia que você vinha armada para os jantares, Selvagem.

Isla ergueu o queixo ligeiramente, sentindo o metal frio na palma da m?o.

— Estou sempre armada — respondeu.

Isla podia jurar que ouviu alguém perto dela engolir em seco.

Oro n?o se moveu. Permaneceu parado alguns metros de distancia à frente. Isla n?o tirou os olhos dos dele quando prendeu a estrela entre os dentes e amarrou a luva sobre os olhos.

A plateia arfou, mas ela n?o conseguia mais ver suas express?es. N?o conseguia ver nada por trás do tecido vermelho-escuro.

Ela pegou a estrela dos lábios e a segurou entre os dedos, as pontas letais cravadas na pele.

Isla respirou lentamente, enquanto as li??es de Terra passavam por sua mente.

Fique parada, crian?a.

N?o se agite.

Você é uma guerreira.

Deixe que a temam.

Deixe que vejam o que significa ser selvagem.

A estrela voou com um zunido.

Isla ouviu o barulho inconfundível de metal contra metal quando a estrela atingiu seu alvo.

Ela tirou o tecido dos olhos e n?o p?de deixar de sorrir ao ver Oro, rei de Lightlark, ainda grudado no lugar, seu olhar n?o nela, mas na coroa derrubada de sua cabe?a dourada.

A pe?a caiu com um baque alto no ch?o, ecoando pela sala silenciosa.

Isla caminhou até Oro, esquecendo seus anéis. Os olhos deles finalmente se encontraram. Ela n?o conseguiu decifrá-lo naquele momento, nem tentou. Em vez disso, se abaixou e pegou a coroa.

— Você deixou cair isso — sussurrou antes de entregá-la e retornar ao seu lugar.

Ela n?o usara uma gota de poder em sua demonstra??o. Mas ninguém a questionou, todos chocados com sua coragem. Indignados.

E, por apenas uma fra??o de segundo, ela se sentiu a governante mais poderosa no sal?o.

Oro era o último governante a se apresentar.

Isla esperava fogo. Um inferno furioso saindo de suas m?os.

Em vez disso, o rei se levantou, colocou a palma da m?o na mesa…

E a pedra virou ouro. Aconteceu em ondas. O metal encobriu o mármore, escorreu pelas laterais e tomou o piso. Em segundos, tudo ficou dourado.

Um poder impossível. Milhares de anos antes, dizia-se que os Estelares podiam criar diamantes. Selvagens conseguiam fazer esmeraldas e rubis crescerem de suas m?os como flores.

Solares podiam transformar ta?as em ouro.

Isso representava um domínio completo do poder.

Seria ele capaz de transformar uma pessoa em ouro? Matar alguém dessa forma?

Cada governante decidia como seu teste seria julgado. Azul anunciou que os nobres votariam no vencedor, com a ressalva de que n?o poderiam votar em seu próprio reino. Como se isso fosse tornar a escolha justa.

N?o foi surpresa quando o rei venceu novamente. Ele mereceu, Isla tinha que admitir, com a exibi??o que deixou a todos sem palavras.

Até os nobres Solares pareciam chocados. Era evidente que nunca tinham visto Oro usar aquele poder.

O que fez Isla se perguntar o que mais o rei mantinha em segredo.





CAPíTULO DEZ


JUNIPER





Anoite tinha gosto de sal. O vento soprou a maresia acima das falésias e árvores, chegando até Isla, agachada nos arredores da pra?a.

Padr?es se formam para os que s?o pacientes, ela sabia, e havia aprendido a ser especialmente persistente durante sua pris?o no castelo de vidro. Cinco dias haviam se passado desde a demonstra??o de Azul, Celeste estava ocupada tentando encontrar um fornecedor para as luvas, e nenhuma outra demonstra??o havia sido anunciada. Ent?o Isla estava se concentrando na sua parte do plano. Tinha visitado a pra?a quase todas as noites para observar. Esperar.

Descobriu quais nobres frequentavam uma loja que vendia obras de arte durante o dia, mas se transformava em um bordel secreto depois da meia-noite. Quais lojas tinham entradas pelas portas dos fundos e exatamente a que horas elas realmente fechavam. Contou o número de músicas que a banda tocava antes de ir embora — sempre catorze — e quais membros passavam no bar antes de voltar para casa.

A informa??o realmente importante foi coletada quando os Solares já tinham ido embora havia muito tempo, para n?o explodirem em chamas com o sol nascente. Enquanto o primeiro indício do dia cobria o horizonte em um tom rosado e as únicas pessoas que restaram na pra?a do mercado estavam muito bêbadas para notá-la, Isla andava pelas ruelas, atenta. Ouvindo.

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