Lightlark (Lightlark, #1)(30)
Algo balan?ou, fazendo um guincho.
A sala ficou menor.
Isla se assustou, aproximando-se do centro do quarto. De alguma forma, as paredes tinham se movido, o ch?o tinha sido engolido.
Menor.
O vidro chacoalhou quando encolheu. Perfumes caíram da penteadeira e se despeda?aram nos azulejos, a maquiagem que restava logo se juntando a eles, borr?es de cor escorrendo, pós brilhantes formando nuvens de poeira.
Menor.
Os batimentos cardíacos de Isla ressoaram em seus ouvidos em advertência; seus dedos tremiam, e o suor escorria pela testa. O quarto estava prestes a engoli-la inteira, a pressionar o vidro contra sua pele, a tornar ela e seu reflexo uma coisa só.
Menor.
O teto se abaulou, quase prendendo-a no lugar. As paredes se dobraram, ficando menores, menores, menores.
Sua cama havia sumido, suas coisas estavam destro?adas no caos, o quarto estava encolhendo ao redor dela.
Este era o seu destino. O reflexo tinha declarado isso.
Trancada para sempre em um quarto.
Um segredo vergonhoso demais para ser compartilhado.
Uma maldi??o dolorosa demais para suportar.
O quarto rangeu, e os ossos de Isla vibraram com o movimento de tudo ao redor dela sendo comido, escondido, encoberto.
N?o.
Ela se recusava.
Isla n?o tinha trabalhado tanto, por anos a fio, só para que seus esfor?os fossem em v?o, para ser uma vítima deste quarto e de suas circunstancias.
Ela nem tinha no??o do quanto estava perdendo. Agora que tinha visto o que o mundo tinha a oferecer, queria tudo.
Queria tudo.
Isla n?o voltaria para aquele lugar. Ela ia quebrar a maldi??o, ou ia morrer tentando.
Antes que pudesse fazer um único movimento para impedir seu destino, no entanto, já parecia ser tarde demais. N?o havia nada que ela pudesse fazer; o restante das paredes caíam em cima dela.
Os cortes de um milh?o de cacos de vidro eram uma constela??o atravessando seu corpo enquanto o quarto se despeda?ava. Antes que ela pudesse sair do caminho, um painel sólido maci?o esmagou-a sem quebrar. Sua respira??o foi rasgada do peito. O mundo estava escuro e silencioso. Seu rosto pressionado contra o vidro, t?o perto que ela n?o conseguia respirar.
Ela ficaria no espelho para sempre?
Havia se juntado à garota no reflexo?
Ela tentou mover um pé, uma perna, qualquer coisa, e finalmente conseguiu sentir ao redor com os dedos. Apenas uma das m?os n?o havia sido esmagada pela parede.
Me dê uma chance, ela disse a seus ossos quebrados. Uma chance, e pode ter certeza de que nunca nos tornaremos ela.
Seus dedos procuraram cega e desesperadamente até uma lamina cortar sua pele como manteiga. Ela sorriu sob os escombros. Era uma de suas espadas. Ela agarrou o cabo.
E quebrou o vidro que a havia sufocado.
Isla ofegou.
Estava de volta ao sal?o.
O espelho estava parado novamente. Seu reflexo agitado a encarou de volta. Desta vez, n?o se moveu sozinho.
Com um tranco, Isla afastou a m?o, a palma fria como gelo.
N?o houve aplausos. Nenhum som quando ela recuou, e a demonstra??o terminou. Cleo foi coroada a vencedora.
Isla permaneceu no sal?o até ficarem apenas ela, o espelho e Celeste.
— Quanto tempo? — Isla finalmente perguntou.
Tinha certeza de que seu tempo fora muito maior do que o dos outros. Que havia sido por isso que as pessoas tinham partido t?o de repente. E por isso que ninguém havia prestado aten??o nela, ou que Celeste n?o havia acenado ou co?ado o nariz ou feito qualquer um de seus truques sutis para se comunicar em segredo com ela.
Celeste franziu a testa.
— Seis minutos — disse, simplesmente. — Por que você n?o olha a ampulheta?
Seis minutos. N?o foi t?o ruim assim.
Isla n?o se incomodou em responder à pergunta de Celeste, porque n?o queria admitir que estava com medo de olhar. Que se sentiu no limite.
Ela podia ter enfrentado seu medo no espelho... mas nunca tinha ficado t?o assustada.
Agora tinha visto seu pior medo encarnado, vivo.
Ela faria qualquer coisa para evitar que aquilo se tornasse realidade.
E isso, talvez, fosse mais assustador ainda.
A governante Estelar estava andando em volta do espelho, observando o objeto com cuidado.
Isla viu de longe Celeste juntar os dedos e sorrir.
— Funcionou.
Isla se endireitou.
— Como você sabe?
Celeste estalou os dedos e faíscas iluminaram o sal?o. Marcas de m?os brilharam em prata no vidro do espelho. A impress?o e a essência de cada governante tinham sido armazenadas pela relíquia.
A Estelar tirou um par de luvas do bolso. Eram t?o finas que pareciam translúcidas. Isla quase vomitou. Ela havia conseguido. Tinha completado sua parte do plano.
Isla abriu a boca, pronta para perguntar se Celeste tinha realmente conseguido encontrar um par de luvas em um mercado clandestino em algum lugar em Lightlark. A alternativa...
Celeste lhe lan?ou um olhar que a fez hesitar.
Franzindo a testa, Celeste vestiu lentamente as novas luvas. O som delas era como de papel e couro, enrugando enquanto deslizavam pela pele. Isla estremeceu. Depois de vestir as pe?as, a Estelar encostou com cuidado em cada marca de m?o, deixando as marcas penetrarem nas luvas. Elas absorviam a energia que o espelho encantado Estelar havia tirado de todos os governantes, para ser usada mais tarde. Era uma quantia irrelevante. N?o o suficiente para ser usada em batalha ou fazer qualquer exibi??o significativa.