Lightlark (Lightlark, #1)(39)
Ela dera a ele tempo mais do que suficiente para se preparar para a demonstra??o. Contrariando seu bom senso, pelas costas da amiga… E ele tinha feito chacota disso.
Havia chegado de m?os vazias de propósito.
Por quê?
O Umbra teve a coragem de caminhar diretamente até ela em seu caminho de volta aos bastidores e dizer:
— Você é a próxima, Devoradora de Cora??es.
E sumiu nas sombras.
Dem?nio. Monstro.
Ela se endireitou. N?o se deixaria aborrecer. Decerto era o que ele queria.
Isla n?o se preocupou em anunciar seu nome enquanto se preparava. Precisava de uma coisa.
Do rei.
— Poderia fazer fogo? — ela lhe pediu.
Por um momento, Oro apenas franziu a testa. Isla se perguntou se ele iria ignorá-la, ou se recusar, e ela teria que pedir ajuda a algum outro Solar. Como se fossem ajudá-la...
Ent?o, com um movimento mínimo do punho, uma coluna de fogo apareceu no centro da arena.
— Obrigada — disse firmemente.
Ele n?o acenou com a cabe?a nem sequer a olhou. Isla seguiu em dire??o às chamas.
Todos os olhos estavam nela. Isla já deveria estar acostumada com isso, mas o escrutínio era como mil facas viradas em sua dire??o.
Ela tirou um frasco do bolso, o vidro em forma de cora??o. Ele continha um líquido espesso e vermelho como sangue.
— Os Selvagens desenvolveram remédios avan?ados de cura — disse ela, segurando o recipiente para todos verem.
Agora, ela só precisava demonstrar sua potência.
Antes que perdesse a coragem, assim como tinha feito meia dúzia de vezes antes na prepara??o, Isla respirou fundo.
E enfiou o bra?o inteiro nas chamas.
Gritos. Gritos de horror. A multid?o arfou, horrorizada, enquanto a pele de Isla carbonizava. Derretia.
Ela n?o vacilou. Mesmo que a dor amea?asse engoli-la inteira. Seu bra?o tremeu no fogo. Sua outra m?o estava fechada com tanta for?a que as unhas arrancaram sangue da palma.
Só mais um pouco.
Lágrimas brotaram nos cantos dos olhos, e Isla levantou a cabe?a, querendo que n?o caíssem. Ela deveria parecer triunfante para o público.
Indolor.
Mas n?o era a verdade.
Sem ser capaz de aguentar mais tempo sem cair de joelhos e se desesperar na frente de todos, ela tirou o bra?o.
A pele havia se soltado em espirais, deixando apenas um vermelho raivoso.
A aparência, o cheiro, era tudo repugnante. Seu est?mago revirou; mais um pouco e Isla vomitaria.
Ela tirou a tampa do frasco com os dentes, os lábios tremendo incontrolavelmente. Ent?o derramou até a última gota do líquido sobre as queimaduras.
Diante de seus olhos, e dos de toda a plateia, a pele acalmou. Consertou-se novamente. Cresceu de volta até que seu bra?o ficou exatamente como era alguns momentos antes.
N?o havia nenhuma marca do fogo.
A dor n?o tinha desaparecido, nem de longe, mas Isla manteve qualquer sinal dela longe do rosto quando abaixou a cabe?a, sinalizando o fim de sua demonstra??o.
Ninguém aplaudiu. Mas n?o era necessário. Isla podia ver o deslumbramento no rosto de cada um.
Lunares eram os únicos em Lightlark que deveriam ser capazes de curar, usando água. Se as informa??es que Celeste recebeu dos nobres e o que Isla ouvira de Ella fossem verdade, eles tinham come?ado a controlar o uso de suas habilidades pela ilha. Cobrando demais, curando cada vez menos.
Como se quisessem que o resto da ilha ficasse mais fraca.
Isla tinha acabado de provar que outra pessoa poderia fazer o que eles faziam. Talvez melhor ainda. O que, ela sabia, só faria Cleo odiá-la ainda mais.
No final, Azul venceu.
Alguns diriam que a decis?o n?o foi justa, mas o jogo também n?o era.
CAPíTULO DEZESSEIS
SOMBRAS
Apele de Isla ainda estava dolorida naquela noite. Ela se encolheu enquanto baixava lentamente a al?a fina do vestido pelo bra?o, reclamando por n?o ter usado um vestido diferente.
Depois havia o zíper. Normalmente precisava das duas m?os para alcan?á-lo, por conta de sua posi??o.
— Se você precisar de ajuda para se despir, permita-me oferecer meus servi?os, Devoradora de Cora??es.
Ela pulou ao som da voz profunda, ent?o se virou.
Grim estava sentado em uma cadeira coberta pelas sombras, quase totalmente escondido. Ele inclinou-se para a frente, com os cotovelos nos joelhos, os olhos trilhando seu ombro agora nu, a al?a abaixada. A parte superior do vestido escorregava ligeiramente para baixo...
Ela endireitou o tecido com o bra?o machucado e ent?o gemeu, a onda de dor estalando como relampagos atrás dos olhos.
O elixir Selvagem podia tê-la curado, mas n?o era avan?ado o suficiente para aliviar completamente a dor. Era acabar com a dor ou curar — uma coisa ou a outra. Claro, os governantes e ilhéus n?o precisavam saber disso.
Por isso que era t?o importante Isla nunca vacilar, nunca deixar ninguém perceber sua dor.
Foi por isso que Terra e Poppy a fizeram praticar, de novo e de novo, até ficar perfeito.
— Como chegou aqui? — ela exigiu, a voz mais aguda do que gostaria. Ele era t?o grosseiro. T?o insinuante. Ela poderia afirmar que odiava aquilo.
Mas n?o odiava.