Lightlark (Lightlark, #1)(34)
Ent?o Isla subiu o primeiro degrau da escada.
A claraboia era uma porta que levava a uma pequena sala de vidro inundada pelo luar. Havia um embrulho cheio de pergaminhos antigos. Um cetro adornado com uma pedra leitosa, de uma cor que mais parecia uma mistura das nuvens com o céu. Uma espada com a lamina tran?ada, as duas camadas de metal entrela?adas como dois amantes.
Mas n?o havia uma grande agulha de vidro.
N?o havia um desvinculador.
A decep??o fez com que Isla agisse de forma imprudente. Entrou no castelo do Continente sem tomar as devidas precau??es, sem esperar nas sombras para garantir que ninguém estivesse por perto. N?o escondeu seus passos, o que significava andar mais devagar. N?o pegou o caminho mais longo, por corredores que estavam sempre vazios porque eram antigos, e portanto deixavam passar feixes de luar e correntes de ar frias por buracos nas pedras, e n?o tinham as enormes lareiras que aqueciam o restante do palácio.
Tudo o que ela queria era retornar ao seu quarto o mais rápido possível, lavar a tintura do cabelo, rasgar as roupas azul-claras e dormir o pouco de sono que a noite permitiria.
No momento em que ela fez a curva para o sal?o principal, era tarde demais.
Cleo já a vira.
Isla desapareceu em um instante. Continuou andando em linha reta, sem saber para onde ia, o cora??o trovejando, imaginando se a Lunar tinha conseguido dar uma boa olhada em seu rosto.
Estava escuro e Cleo estava do outro lado do corredor.
N?o, n?o perto o suficiente para conseguir ver quem era.
Mas certamente o suficiente para deixá-la desconfiada.
Segundos depois, Isla ouviu o som inconfundível de passos atrás dela.
Seguindo-a.
Em apenas algumas passadas Lunar a alcan?aria e confirmaria que a garota de cabelo azul-claro e roupa dos Etéreos era outra governante.
Uma impostora.
A descoberta geraria tantas perguntas e revelaria tantos de seus segredos que Isla come?ou a suar e ofegar.
Cleo n?o desistiria até encurralar Isla em um canto. Estava a poucos segundos de alcan?á-la.
E Isla fez outra curva e usou os poucos segundos em que a governante Lunar n?o poderia vê-la para correr a toda a velocidade.
Isla correu, correu, correu, até virar outra esquina.
E colidiu com algo sólido.
Sua cabe?a girou. Ela teria caído para trás se m?os fortes n?o a tivessem segurado pela cintura.
Grim.
Passos ressoaram, ecoando pelo último corredor. Mais uma curva e a governante Lunar a encontraria. Encontraria os dois.
O governante Umbra olhou para ela, confuso e franzindo o cenho. Seus olhos pousaram em seus cabelos coloridos e em suas roupas, e uma pergunta se formou na express?o dele.
N?o havia tempo para explicar.
— Por favor — ela disse, agarrando seus bra?os, odiando a forma como sua voz falhou ao dizer aquelas palavras.
Grim pareceu entender o que ela queria, porque, antes que Cleo fizesse a curva, ele puxou Isla para si e ambos desapareceram.
A governante Lunar congelou ao virar o corredor e encontrá-lo vazio. Isla poderia ter se deleitado com a express?o chocada de Cleo se n?o estivesse com tanto medo.
Estava tremendo. Cleo estava a poucos metros de distancia. Se a Lunar a descobrisse, os planos e a ajuda de Celeste teriam sido em v?o. E tudo porque Isla tinha sido tola e imprudente. Só porque estava chateada por n?o ter encontrado o desvinculador de primeira.
Cleo deu um passo à frente, na dire??o deles. Silencioso como uma sombra, Grim levantou Isla como se ela n?o pesasse nada e a levou para o canto da sala. O áspero muro de pedra arranhou as costas dela. Grim estava protegendo-a. Ela podia sentir a respira??o dele na sua testa.
Isla tentou n?o se concentrar no que mais podia sentir. As m?os fortes em sua cintura, o gelo que emanava dele ultrapassando o fino tecido de sua roupa furtada. O frio que percorreu sua coluna como a noite florescendo em seus ossos.
Era o medo, ela disse a si mesma, medo de ser descoberta. Nada mais.
A Lunar andou por todo o comprimento da sala antes de voltar pelo mesmo caminho de que tinha vindo.
Somente depois de seus passos estarem longe demais para serem ouvidos, Grim tornou-os visíveis.
E Isla ficou chocada com a proximidade entre eles.
Ela estava pressionada contra a parede, e ele se assomava sobre ela, a cabe?a t?o curvada que seu nariz quase ro?ou o dela.
Grim a encarou.
— Decidiu mudar de reino, Devoradora de Cora??es? — ele perguntou, estendendo a m?o e segurando uma mecha do cabelo tingido. — Se é esse o caso, devia considerar Umbra. Nós n?o podemos competir com os Etéreos quando se trata de doces ou bebidas criativas, mas se libertinagem é o que você procura... — Seu olhar sombrio brilhou, se divertindo com a situa??o. — Somos mais famosos por explorarmos o prazer minuciosamente.
O que ele estava insinuando? Suas m?os ainda estavam na cintura dela, seus dedos longos percorrendo as costelas de Isla. Ela inspirou, trêmula.
Ent?o o empurrou, de cara fechada.
— N?o estou interessada.
Mas Grim apenas sorriu enquanto dava um passo para trás.
é claro. O dem?nio podia sentir suas emo??es, o calor se acumulando em seu ventre enquanto ela pensava em seu toque surpreendentemente gentil, na forma como seus lábios se curvavam enquanto ele falava a palavra prazer...
N?o. O que havia de errado com ela? Isla sempre julgou os Selvagens imprudentes quando come?avam a ter sentimentos por alguém. Arriscava o relacionamento terminar em morte.