Lightlark (Lightlark, #1)(54)
Era isso que Azul sempre visitava?
Ouviu sussurros, chamando-a à frente. A tempestade pulsava com potência. Ela queria ver aquilo de perto.
O penhasco mais próximo da tempestade estava quebrado em muitas partes. Peda?os dele tinham caído, deixando lacunas de sessenta metros entre meia dúzia de ilhotas rochosas. Algumas eram ligadas por pontes feitas às pressas, com tábuas t?o distantes que parecia mais fácil cair no v?o entre elas do que realmente dar o próximo passo. Elas faziam as pontes para as ilhas dos reinos parecerem seguras.
O rei deu um passo na dire??o de uma.
— N?o.
Oro virou-se para olhar para Isla.
— N?o? — ele perguntou, como se tivesse entendido mal.
Ela n?o encontrou seus olhos, mas poderia ter adivinhado que ele a observava com uma express?o de desagrado.
O rei suspirou. Ela viu um movimento rápido, como se ele tivesse pressionado os dedos na têmpora em frustra??o.
— é segura. Mas, se por alguma raz?o você cair, é óbvio que eu te salvaria.
Isla se virou e o encarou.
— Me salvar? Como você fez no primeiro dia?
Oro ficou tenso. Ent?o devolveu o olhar e respondeu:
— Sim, como eu fiz no primeiro dia.
Ela soltou uma risada.
— Eu caí na água! E você me deixou em uma po?a na varanda, como lixo, sem nem se preocupar em ver se acordei!
Ele zombou.
— Você pode ter caído na água antes que eu pudesse te alcan?ar, mas também teve uma les?o na cabe?a da qual n?o teria acordado se eu n?o tivesse te curado.
Isla se lembrou da cabe?a latejando e de como n?o havia nenhum ferimento. Ela se endireitou.
— Você acabou de admitir que me alcan?ou tarde demais, ent?o a única maneira que vou atravessar esta ponte é se você ficar bem do meu lado. Porque se eu cair, você cai.
Oro a olhou como se pudesse ele mesmo jogá-la lá de cima.
— Está bem — ele disse por entre os dentes, e pegou o bra?o de Isla de forma rude.
Antes que ela pudesse hesitar, o rei arrastou os dois para a ponte. Isla prendeu a respira??o. O vento soprava pelas rachaduras, causando calafrios em suas pernas. De repente, elas tinham ficado t?o rígidas quanto as finas tábuas de madeira balan?ando sem controle sob seus pés.
— Rápido — ela sussurrou, fechando os olhos.
Deu um passo na frente do outro, tentando n?o pensar na sensa??o de cair infinitamente da varanda até mergulhar no mar. Em como sua respira??o tinha sido arrancada do peito. Como tinha...
— Pode abrir os olhos agora — ele disse, soltando o bra?o de Isla como se causasse queimaduras. Isla nunca esteve t?o grata por sentir a terra firme.
Ela obedeceu e olhou ao redor. Tinham chegado a uma parte da montanha que era estreita no topo, mas juntava-se ao resto da colina perto da base. Se ela escorregasse, despencaria apenas cerca de trinta metros antes de chegar a alguma fenda do penhasco. Ela estremeceu. N?o que isso fosse muito melhor do que simplesmente cair pela lateral da ilha.
A tempestade parecia próxima o suficiente para ser tocada, curvando-se na dire??o deles em sua dan?a paralisada. Os sussurros que Isla conseguira ouvir no penhasco estavam mais altos agora. Quase insistentes.
Oro havia parado a poucos metros de distancia, em um buraco perfeitamente redondo, como um po?o. Na penumbra, Isla n?o conseguia ver o fundo. Pelo que sabia, ia até o fundo da montanha.
— Eu vou primeiro — Oro disse do lado dela. — Depois você.
Ele come?ou a dar um passo à frente, para dentro do buraco negro, e ela agarrou seu cotovelo. Ir primeiro? Eles iam pular lá dentro?
— Alguma coisa vai... aparar a minha queda?
— é óbvio que sim.
Ela olhou para o buraco e estreitou os olhos. Estava t?o escuro quanto se estivesse de olhos fechados. Se n?o conseguia ver nada, significava que a queda era longa. Poderia ser mortal.
— Você... tem certeza?
Oro suspirou.
— Medo de altura. Medo de cair. Medo de pontes. Devemos fazer uma lista dos seus medos, Selvagem?
Isla o encarou. Em vez de apontar que todos aqueles, provavelmente, seriam classificados como um único medo, n?o três, ela gesticulou para o buraco.
— Vá na frente, rei.
Ele sustentou o olhar de Isla quando deu um passo à frente e caiu.
Isla ficou tensa. Era sua vez agora.
Ela n?o se moveu um centímetro.
Oro podia voar, nenhuma queda seria mortal. Ele tinha um milh?o de formas de sobreviver a algo assim. Isla n?o tinha nenhuma.
Tudo o que tinha eram suas palavras prometendo que ela ficaria bem. Sua vida dependia da honestidade do rei. Algo de que ele parecia se orgulhar, levando-se em conta sua demonstra??o.
Ainda assim... Se ela morresse desse jeito, teoricamente ele n?o estaria quebrando as regras...
Seria essa uma maneira fácil de se livrar de Isla?
Todos os outros governantes, exceto Celeste e Grim, estavam com ele nisso?
Segundos se passaram. Os sussurros da tempestade ficaram mais altos. Mais insistentes.
Ela estava com medo. Embora Terra tivesse treinado Isla para n?o temer a morte, ela temia.
Mas n?o era isso o que mais temia.
Seu maior medo era o que ela havia enfrentado no teste de Celeste: n?o viver. Ficar presa por toda a eternidade em um quarto sem ter feito tudo o que sonhou.