Lightlark (Lightlark, #1)(53)
— S?o pijamas.
Ele apenas a encarou.
Isla queria que o tempo deles juntos terminasse o mais rápido possível, ent?o deu de ombros, rapidamente tran?ou o cabelo e saiu sem sua coroa.
CAPíTULO VINTE E TRêS
TEMPESTADE
Oro caminhou pela mata escura com facilidade, o rei do dia que agora caminhava apenas pela noite. Isla se perguntou se lhe doía estar fora do castelo, lembrando como eram as coisas à luz do sol. Ou talvez já estivesse acostumado com isso.
Quinhentos anos era muito tempo.
Ela n?o lhe perguntou nada enquanto tentava, sem muito sucesso, acompanhar seu ritmo.
Isla presumiu que estavam indo para a pra?a ou para uma das ilhas, mas, antes que pudessem chegar ao vale, Oro fez uma curva brusca para a esquerda.
— Aonde estamos indo? — perguntou.
Oro deu vários passos sem dizer uma palavra. Continuaram pelas colinas verdes do Continente, longe dos ilhéus que desfrutavam a noite. Longe de qualquer trilha.
— Vai me ignorar?
Parte dela queria ficar em silêncio. Realmente n?o importava para onde ele a levasse, contanto que conseguisse o que queria dessa dupla, certo? Mas seu desdém havia se tornado desrespeitoso.
Ele continuou andando, e ela deu uma boa olhada em sua capa dourada, flutuando suavemente com a brisa noturna.
Ela parou, bra?os cruzados.
E, nesse momento, ele também. Suas costas ficaram tensas antes de ele se virar lentamente. Oro abriu a boca, mas ela foi mais rápida.
— Só porque você me pediu para usar isso... — disse ela, gesticulando na dire??o de sua camisa enorme e cal?as de montaria — … e me pediu para n?o usar isso... — e bateu de leve com a unha na coroa dele, o metal tilintando em resposta. Sua unha também fez um estalo dolorido, mas ela n?o se atreveu a sequer estremecer — … n?o significa que eu também n?o seja uma governante de reino. Você vai me tratar com respeito, rei. — Ela cuspiu a última palavra como se fosse veneno.
Poppy teria caído morta ouvindo o jeito que ela se atreveu a falar com o rei de Lightlark. Especialmente pelo que sua tutora a havia ordenado fazer.
Mas ela estava cansada de medir suas palavras, de ignorar suas emo??es, de dizer a todos o que eles queriam ouvir. O que ganhara com isso?
Isla tinha quase certeza de que Cleo queria matá-la. Elas ainda n?o tinham encontrado o desvinculador. Os testes acabaram sendo um desastre.
Ele a olhou. N?o, n?o tinha gostado nada de seu tom ou do peteleco na coroa.
— Estamos indo para a tempestade — disse ele bruscamente antes de se virar e continuar andando.
Tempestade?
Ela n?o tinha ideia do que ele queria dizer. Mas o seguiu novamente, contente por ao menos ter uma resposta.
Eles estavam caminhando em dire??o à costa. Aquela que Azul gostava de visitar com frequência. O ar come?ou a ter gosto de sal. Seu cabelo voava para trás, a tran?a chicoteando sem controle.
Nas terras dos Selvagens, o vento sussurrava. Cantava músicas, repassava fofocas e assobiava melodias t?o fortes quanto as badaladas de um relógio. Antes de Terra e Poppy terem trancado seu quarto, Isla às vezes mantinha o painel aberto durante o dia, na esperan?a de ouvir algumas partes do que o vento dizia.
O vento falava de angústia, dos Selvagens que cometeram o erro de se apaixonar. De cora??es, comidos e dilacerados por unhas afiadas como facas. Contava histórias que pareciam t?o antigas quanto as próprias árvores, nascidas de sementes que diziam vir diretamente de Lightlark.
A nova terra selvagem havia sido formada apenas quinhentos anos antes, mas sua funda??o era antiga. Foi dito que, depois que eles fugiram da ilha e de sua tempestade amaldi?oada, uma centena de Selvagens se sacrificaram para criar a nova terra, entregando seu poder à terra seca e infértil. Flores brotaram de seu sangue, florestas cresceram em quest?o de semanas, e a nova terra nasceu de seus ossos.
Bem, foi isso que o vento disse. Isla achou bastante dramático.
às vezes, ela respondia. Desabafava. Presa em sua esfera de vidro fosco, contava seus pensamentos para o vento.
Ele nunca respondeu. Nem uma vez.
Mas Isla tinha esperan?as de que escutasse.
Chegaram a mais um declive íngreme. Suas panturrilhas come?aram a doer.
Ela n?o tinha certeza de por que o rei a levaria para aquela parte do Continente. O que havia mesmo para ver? O oceano?
Ent?o, ela avistou. Algo havia engolido a costa.
Uma tempestade parada.
Nuvens escuras como manchas de tinta borravam o céu acima da praia. Relampagos prateados grossos como laminas disparavam delas até a areia, faiscando em uma energia tremulante. Um anel de fogo pairou por perto, suas chamas presas no tempo. Cascatas enormes e mortais vazavam de buracos nas nuvens, longos len?óis de água como raios de luar tingidos de roxo.
O mar tinha sido puxado para trás como um cobertor e erguido — no topo, uma onda alta como uma torre que nunca caiu. Estava congelada, embora n?o em gelo. Mesmo de sua altura, Isla podia ver a água correndo lá dentro, borbulhando. Esperando. Tinha deixado um longo trecho do fundo do mar descoberto. Pedras brilhantes e berloques antigos há muito perdidos cobriam a areia, ao lado de conchas variadas.
Era a maldi??o na ilha, temporariamente subjugada. A tempestade encantada.