Lightlark (Lightlark, #1)(50)
Desta vez, o rei sentou-se em seu trono, como se para lembrar os demais de sua posi??o.
Mesmo que ele estivesse, supostamente, morrendo.
A coroa de Oro brilhou sob a luz das chamas acima. Ele franziu a testa.
O resto dos governantes ficou em silêncio, claramente se perguntando a mesma coisa que Azul havia verbalizado de forma t?o prestativa.
Finalmente, o rei falou:
— Desde o último Centenário, a ilha vem enfraquecendo em ritmo constante. Anci?os morreram. Constru??es que estavam de pé há milhares de anos est?o agora em ruínas. Nossas criaturas mais antigas desapareceram. — Ele agarrou as laterais do trono com tanta for?a que os nós dos dedos ficaram brancos. — As maldi??es. Séculos de governantes vivendo longe da ilha. Nosso povo indo embora aos milhares. Tudo isso cobrou seu pre?o de Lightlark. De mim.
Isla pensou em seu próprio reino. As mesmas coisas tinham acontecido por lá. Eram sinais de que pouca energia estava sendo injetada na terra e habilidades n?o estavam sendo utilizadas de forma suficiente.
Oro se levantou do trono. Encarou cada um deles, olhos vazios como sempre.
— Temo que este Centenário n?o seja simplesmente uma chance de quebrar nossas maldi??es. Temo que seja nossa última chance.
A sala estava em silêncio.
Um poder crescente — se vindo da raiva ou medo ou cautela, Isla n?o sabia — preencheu a sala.
Azul falou novamente:
— Como você sabe que está morrendo?
Com isso, o rei puxou uma manga. Acima do cotovelo, sua pele dourada tinha come?ado a ficar cinza. Quase azul.
— Está se espalhando — ele disse. — Mais rápido do que eu esperava. — Sua mandíbula travou. — Parte do meu poder e do meu papel tem sido manter a ilha quente e cheia de luz por séculos, mesmo durante a tempestade sem fim. — Ele franziu a testa. — Esse poder enfraqueceu. A última década foi a mais fria da história. Está matando plantas e animais. Tenho tentado diminuir esse impacto... mas logo n?o serei capaz de impedir a mudan?a.
Era por isso que ele tinha ordenado que todas as lareiras permanecessem acesas. Por isso havia tantas tochas por todo o Continente e fogo em quase cada quarto do castelo. Estavam mascarando a fraqueza do rei.
Ele desceu as escadas, colocando-se no mesmo nível que eles.
— Espero que agora vocês percebam por que é mais importante que nunca desvendar e cumprir a profecia.
O rei apontou para a parede. Palavras come?aram a ser esculpidas ao longo da pedra com grandes letras de fogo. O enigma do oráculo, aquele que Isla tinha estudado anos antes. A chave para quebrar as maldi??es.
Somente unidos as maldi??es podem desfazer
Somente depois que um dos seis vencer,
Quando o crime original
For cometido novamente
E uma linha de poder ao fim chegar
Somente ent?o poder?o a história alterar.
— “Somente unidos as maldi??es podem desfazer” — leu Oro. — Por isso nos dividimos em equipes, para cumprir a profecia. E tentar decifrá-la. Um lembrete da primeira regra. Um governante é proibido de assassinar seu parceiro.
Isla n?o estava realmente preocupada com a profecia. O plano dela e de Celeste n?o exigia isso.
Ainda assim, ela fingiu ler as palavras na parede enquanto repassava ideias na cabe?a. Talvez pudesse ajustar sua po??o de elixir para tingir roupas... Talvez conseguisse tingir de dourado um de seus próprios vestidos.
N?o, nunca daria certo. Além disso, ela mal tinha elixir suficiente para mais uma tentativa de pintar o cabelo, muito menos uma pe?a inteira de tecido.
Ela poderia roubar um Solar no mercado e pegar suas roupas?
Isla estremeceu com essa ideia.
Horrível. Além disso, o Solar denunciaria o crime imediatamente, e Oro saberia que alguém pretendia entrar às escondidas em sua ilha.
Isla estava t?o concentrada em fingir interesse na profecia e tramar sua tentativa de se infiltrar na biblioteca da Ilha do Sol que n?o percebeu que seu nome tinha sido chamado até ser repetido t?o alto que ela se assustou.
— Isla — o rei disse.
Sua express?o deve ter revelado que ela n?o tinha ideia do que ele dissera antes ou se fizera uma pergunta, porque o rei lhe lan?ou um olhar sério.
— Minha escolha de parceira — o rei repetiu por entre os dentes, de forma bem evidente odiando cada palavra que saía de sua boca.
A sala dissolveu-se. Ela esqueceu de neutralizar sua express?o ou controlar as emo??es perto de Grim. Sua boca poderia estar aberta. Ela talvez tenha lan?ado sem querer um olhar horrorizado para Celeste.
— é a Isla.
CAPíTULO VINTE E DOIS
ACORDO
Isso era péssimo. Perigoso.
Ela deveria ter sido colocada com Celeste. Elas tinham um plano.
Esse era mais um fator que só complicava tudo.
Por que em mil reinos o rei ia querer formar uma dupla com ela?
A última coisa que Isla queria era ser for?ada a passar o tempo com o líder de Lightlark. N?o só porque ele era insuportável, mas também porque fazer isso significaria ter que utilizar seus poderes para usar a profecia e encontrar uma forma de quebrar as maldi??es.
Poderes que ela n?o possuía.