Lightlark (Lightlark, #1)(63)



O rei estava do outro lado da floresta agora. Ela podia ouvi-lo a cada poucos minutos, cortando a casca das árvores com seus poderes, apenas o suficiente para olhar dentro do tronco. Ele n?o se distraía, n?o importava quantas horas passassem executando a mesma tarefa.

Isla n?o podia dizer o mesmo. N?o quando tinha tantas perguntas na cabe?a.

Ela tinha terminado sua se??o por aquela noite. Nada de cora??es. Apenas um ou outro animal aninhado dentro do tronco que a espiava com um olhar curioso.

Celeste tinha feito uma visita naquela manh?, querendo uma atualiza??o.

Estou tentando, Isla dissera. Simplesmente nunca parecia o momento certo de perguntar ao rei sobre a biblioteca. Se fizesse muito cedo, ou de repente, ele suspeitaria.

Agora, ela se perguntava se tinha desperdi?ado todas as chances de convencê-lo a levá-la à biblioteca da Ilha do Sol com a última conversa. O rei parecia furioso.

Era perigoso, idiota, mas ela se embrenhou mais na floresta, a m?o tocando as árvores-de-caix?o até acabarem. A natureza mudou, tornando-se mais selvagem. Flores desabrocharam, vermelhas como os vestidos que ela usava com mais frequência.

Roseiras. Pétalas bulbosas protegidas por arcos de espinhos.

A última anci? Selvagem, aquela que ela havia encontrado na floresta, a chamou assim uma vez.

Você é uma rosa com espinhos, disse. Uma coisa bonita e capaz de se proteger.

Se ao menos ela conseguisse.

Suas laminas deviam ter sido suficientes. Ela era uma grande guerreira. Mas contra o poder o metal era como papel.

As roseiras ficaram mais grossas, transformando-se em outra coisa, uma planta com espinhos longos e grossos como dedos, espalhando-se por toda parte. Parecia uma arma. Isla n?o sabia o motivo, mas seguiu a flora??o pela floresta, vendo o arbusto ficar maior, mais alto.

Até chegar a um muro inteiro de pontas e espinhos.

Seu cora??o acelerou.

Espinhos se formavam nas plantas para protegê-las. Eram mecanismos de defesa, assim como as laminas e estrelas de arremesso de Isla.

Aquele muro inteiro de espinhos devia estar protegendo alguma coisa.

Talvez o cora??o de Lightlark.

Isla virou-se para gritar por Oro, triunfante.

E foi atacada.

O emaranhado de espinhos ganhou vida, envolvendo-a em seu abra?o.

E puxando-a direto para seu ninho afiado.

O grito foi algo gutural. Dezenas de farpas furaram suas costas ao mesmo tempo, como laminas. Espinhos se cravaram em seus bra?os.

Isla tinha uma boa resistência à dor, mas aquilo n?o tinha sido ensaiado. Tinha sido uma surpresa.

Ela tentou se afastar da parede à for?a, mas estava presa, os espinhos atravessando em sua pele como ganchos. Segurando-a. Cada impulso fazia com que penetrassem mais sua pele. O sangue corria, quente, pelas costas; lágrimas escorriam pelo rosto. Um som engasgado escapou de seus lábios.

Ent?o, m?os quentes a seguraram.

— Pare de se mexer. Está piorando as coisas! — gritou uma voz.

Ela queria cuspir em seus pés por brigar com ela em um momento assim. Queria avisá-lo para se afastar da planta maligna. Mas mal conseguia enxergar. A dor tinha tomado todos os seus sentidos.

O rei xingou, e ela imaginou que estava inspecionando suas costas.

— Vou ter que quebrar os espinhos para te soltar.

Isla assentiu e, logo depois, gritou a plenos pulm?es enquanto Oro, com sua energia Estelar, partia em dois o primeiro espinho. N?o importava o quanto seu poder era certeiro e suave, ela sentia o peso nas costas, torcendo-se mais perto de seus ossos. A planta n?o gostou do manuseio de Oro. Enfiou outras farpas mais fundo em Isla. No entanto, n?o atacou o rei. Era como se tivesse apetite apenas por ela.

— S?o... muitas.

Ela n?o suportaria outra. A primeira...

Gritou novamente. Viu flashes atrás de seus olhos, a dor t?o profunda que ela jurava que tinha cor própria.

De novo.

De novo.

De novo.

Isla n?o conseguia se controlar. Na próxima vez que ele quebrou um dos espinhos, e a planta retaliou indo mais fundo, ela vomitou nas próprias roupas.

Se o sujou, o rei n?o disse uma palavra. Apenas a segurou firme enquanto quebrava os espinhos.

De novo. De novo. De novo.

Isla insistiu em retirá-los.

Estava no ch?o agora, longe do muro, Oro ajoelhado à sua frente. O resto da floresta estava em silêncio. Observando-a.

— Como isso aconteceu? — ele perguntou.

Certo. Claro que ele estava confuso. Plantas n?o se atreveriam a atacar seus governantes. Mesmo se estivesse mantendo suas habilidades camufladas.

— Eu... tropecei — respondeu, estremecendo. Ele continuou observando-a, e Isla estreitou os olhos para ele. — Vá, procure o que quer que a parede esteja guardando. — Ela cuspiu. — Estou bem. Posso tirá-los sozinha.

Mesmo ferida, mesmo encharcada de sangue, o rei tinha a coragem de encará-la.

— Você está coberta em seu próprio v?mito — disse ele categoricamente. Tentou ajudá-la, mas ela recuou, ent?o gemeu.

— Eu disse que vou fazer isso sozinha — rosnou.

Oro mostrou os dentes para ela.

— Você é mesmo t?o teimosa assim?

— Você é mesmo t?o arrogante assim? — ela perguntou. — Eu disse n?o. Agora vá.

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