Lightlark (Lightlark, #1)(65)



— N?o tenho como ter certeza — ele disse —, mas certamente n?o hesitariam em machucar você.

Isla tinha ficado grata pela pausa. Oro havia curado Isla com seus poderes Lunares, mas seu corpo parecia ter desistido de viver por dois dias depois que retornaram ao castelo. Estava destruída. Exausta. Quebrada.

Mas sua mente nunca esteve t?o clara.

Seu encontro com os espinhos só a fez desejar ainda mais o fim das maldi??es. N?o apenas pela liberdade… mas pelo poder.

Nunca mais plantas a machucariam. Nunca mais ela se sentiria inútil contra elas.

Depois do terceiro dia, quando estava pronta para a próxima miss?o e ainda n?o tinha recebido notícias do rei, come?ou a se preocupar.

Ele havia decidido que uma Selvagem vulnerável a plantas n?o seria muito útil? Havia decidido seguir o plano sozinho?

Ela se recusou a ficar sentada no quarto esperando que ele fosse buscá-la. Se o plano dele havia mudado, o delas também mudaria. Precisava falar com Celeste.

Isla colocou um bilhete embaixo da porta da Estelar, pedindo que se encontrasse com ela na pra?a. Como n?o eram uma dupla, ela pensou que precisavam come?ar a formar uma amizade superficial diante dos ilhéus, para que, caso fossem vistas juntas, eles n?o desconfiassem. A ideia era se encontrarem por acaso na loja de armas Estelares. Isla precisava de uma adaga, uma que n?o tivesse dupla fun??o estética.

Mas, mais do que isso, precisava conversar com a amiga.

Ela esteve t?o concentrada em seu trabalho com Oro que quase tinha se esquecido de que a Estelar havia sido for?ada a passar um tempo com Cleo. Como tinha sido? Celeste era do tipo que evitava dividir coisas para n?o causar preocupa??o, mas Isla queria que a amiga contasse com ela tanto quanto podia contar com Celeste.

A pra?a estava mais movimentada do que antes, vendedores enchendo as vitrines com seus melhores produtos: chapéus de seda, luvas cobertas de cristais, vestidos t?o volumosos quanto os doces e p?es expostos ao sol nas vitrines da padaria das proximidades. Tudo em prepara??o para o baile.

Faltavam apenas dez dias.

Dez dias até que a matan?a fosse permitida.

Dez dias para descobrir onde ficava a biblioteca da Ilha do Sol.

Dez dias para encontrar e usar o desvinculador.

Dez dias para quebrar as maldi??es e sair da ilha.

Isla parou em frente à loja Estelar. Quando estava prestes a entrar, alguém lhe deu um esbarr?o.

Estranho. Normalmente os ilhéus passavam bem longe dela, como se sua pele fosse venenosa.

Ent?o sentiu o bilhete que havia sido colocado na palma da sua m?o.

Era um pedacinho de papel. As palavras a fizeram congelar.

Você está em perigo, dizia.

O quê? Isla se virou, procurando quem lhe dera o aviso. Viu um homem de capa branca atravessando o mercado de cabe?a baixa. Só podia ter sido ele.

Um Lunar?

Ela n?o ia parar para resolver o enigma de quem poderia querer prejudicá-la. Havia muitas pessoas nessa lista.

Em vez disso, resolveu seguir quem havia lhe passado a mensagem.

Tinha música tocando nas ruas, um quarteto que, sem dúvida, havia sido contratado para deixar todos animados para o baile. As lojas mantinham as portas abertas, e os meninos e meninas gritavam promo??es: Oferta especial! Dois pares de luvas pelo pre?o de um! Chapéus de primeira para ilhéus de primeira!

Isla correu pela multid?o, empurrando pessoas fazendo compras, segurando pilhas de embrulhos com fitas, crian?as com sorvetes de casquinha. Ela sussurrava desculpas que eram recebidas com arfares assustados, e quase colidiu com uma carro?a de frutas maduras e castanhas recém-torradas, mas lá, muito à frente, ela viu. Um brilho de tecido branco, desaparecendo em uma esquina.

Celeste apareceu subitamente no caminho, seguindo para a loja Estelar. Os olhos de sua amiga se estreitaram em confus?o quando Isla passou correndo, sussurrando:

— Já volto.

E foi embora sem esperar resposta.

Com os bra?os bem perto do corpo para escapar pela estrada movimentada, Isla se moveu como uma fita ao vento, os pés encontrando espa?os livres na cal?ada, o corpo preenchendo vazios entre o mar de gente. Instantes depois ela virou naquela mesma esquina, para uma rua quase vazia. Tanto que ela conseguiu ver o Lunar correndo para longe, o rastro da capa ondulando na brisa.

A ruela sinuosa do mercado descia pelas montanhas em vez de subir. O ar estava pesado com salmoura, peixe e maresia. Os paralelepípedos pedregosos estavam molhados sob seus sapatos, e ela quase escorregou na pressa de alcan?ar o Lunar.

Ela virou outra esquina… E ele tinha sumido.

Lenta demais. Ela o perdera de vista. O mar estava próximo. Estava nas ruínas do que devia ter sido um porto centenas de anos antes, quando a ilha n?o estava presa em sua maldi??o.

Isla se obrigou a ficar quieta, recusando-se a desistir. Ela olhou em volta, apertando os olhos, procurando um som ou uma ondula??o de tecido.

Ela se virou na outra dire??o e encontrou. A ondula??o da capa branca, desaparecendo atrás de um navio que, de alguma forma, havia chegado à terra firme. Parecia uma baleia encalhada, virada de lado.

Isla deu um passo e ofegou.

Correntes vindas do nada prenderam seus punhos e tornozelos.

A lamina fria de uma espada foi pressionada firmemente contra sua garganta.

— Isso foi um pouco fácil demais — disse uma voz grave em seu ouvido. Isla puxou contra as correntes e descobriu que n?o eram correntes. Eram água tran?ada, firme como uma onda turbulenta, forte como a maré.

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