Lightlark (Lightlark, #1)(61)
Segundos se passaram em silêncio, e Isla pensou que ele iria ignorá-la novamente. Mas, por fim, ele disse: — Azul perdeu alguém. Alguém que amava.
Ah. Isla n?o esperava isso. Ela sup?s que todos os governantes haviam perdido alguém próximo a eles na noite em que as maldi??es foram lan?adas. Isso parecia diferente.
— Alguém muito importante? — ela arriscou.
Oro assentiu.
— O marido.
Isla sentiu um aperto no peito. N?o conhecia Azul muito bem, mas o pensamento de que ele havia perdido alguém t?o próximo provocou nela uma tristeza inexplicável.
— Ele também era um Etéreo? — ela perguntou.
Ele negou com a cabe?a.
Isso a fez pensar no irm?o de Oro e no casamento que as maldi??es tinham destruído. Dois governantes foram escolhidos para se casar pela primeira vez em séculos, uma chance de unir a ilha. Ela n?o queria perguntar diretamente sobre o rei Egan, mas questionou: — Casamento entre reinos é comum em Lightlark?
— Tornou-se mais comum — foi tudo o que ele disse.
Isla franziu a testa.
— Como isso afeta o poder, ent?o? Crian?as... Elas nascem com as habilidades de apenas um reino? — Ela olhou para o rei. — Elas n?o recebem as dos dois, n?o é?
Oro balan?ou a cabe?a.
Ela esperou, com expectativa, querendo uma explica??o melhor.
O rei suspirou.
— Elas nascem com um poder, Selvagem.
Interessante. Isla abriu a boca, prestes a fazer outra pergunta, quando Oro deu a ela um olhar que a silenciou novamente.
Certo.
Embora tivesse sido ele quem terminou a conversa, dez minutos depois, ele avisou: — Estamos perto da entrada para a Ilha Selvagem — murmurou, como se, na verdade, n?o tivesse a inten??o de dizer essas palavras.
Isla ficou parada. Ela sabia que os Selvagens tinham sua ilha em Lightlark, é claro. Até procurou por ela enquanto bisbilhotava por aí. Mas n?o tinha encontrado a ponte em lugar nenhum.
— Como sabemos que o cora??o n?o está na Ilha Selvagem? — ela perguntou, subitamente desesperada para vê-la. Oro continuou andando, e ela correu para alcan?á-lo. — Com certeza a maioria das plantas está lá.
O rei a encarou.
— Você mesma disse. O cora??o precisa de um anfitri?o disposto e carinhoso para sobreviver. — Ele deu de ombros. — Toda a natureza na Ilha Selvagem está morta.
Morta. A palavra foi tiro em seu peito.
Ela n?o devia ter esperado nada diferente, mas ainda assim doeu ouvir.
Um instante se passou.
— O que você achava deles? — ela perguntou, embora soubesse a resposta, dada a forma como zombou dela no primeiro jantar dos governantes. — Dos Selvagens.
Ele franziu a testa, e Isla se preparou para uma série de insultos pelos quais ela poderia dar-lhe um tapa.
— Era o meu reino favorito depois dos Lunares — ele respondeu por fim.
Ela zombou.
— N?o está falando sério.
Ele olhou para ela por cima do ombro.
— Eu disse eram, Selvagem.
— Por quê?
Eles continuaram andando. As árvores come?aram a mudar. Ficando mais esparsas. Até que chegaram a uma clareira.
— Os Selvagens eram conselheiros em nossa corte — ele contou. — Quando eu era crian?a, me ensinaram a empunhar uma espada, a colher as frutas certas. Eram leais. Eram bons.
Isla apenas olhou para ele.
— E agora?
— E agora... — Eles entraram em outro bosque, composto inteiramente de árvores-de-caix?o. Centenas delas. — Selvagens s?o todas as coisas que as pessoas dizem.
Passaram a noite inteira descascando e olhando dentro de cada árvore. Oro fez isso sem ter que usar uma faca, gra?as a suas habilidades Estelares. Isla usou as m?os e uma pequena adaga que havia levado escondido para a ilha, disfar?ada de pulseira. A cada corte de sua lamina, ela estremecia, esperando que a árvore retaliasse, mas nenhuma delas tentou machucá-la. Isla trabalhou rápido o suficiente para que Oro n?o sugerisse utilizar seus poderes para a tarefa. A cada hora que se passava, ela ficava mais preocupada, esperando por essa sugest?o.
No final, ele finalmente fez isso.
— Isso seria mais fácil com suas habilidades — disse, franzindo a testa.
Isla congelou, pensando se deveria se preparar para correr, e no que isso a ajudaria.
— Mas as criaturas que isso poderia atrair... n?o tenho certeza de que vale a pena o risco.
Isla se perguntou sobre essas criaturas, as que ele havia mencionado antes. Quem eram e por que odiavam tanto os Selvagens?
Por que até Oro tinha medo delas?
Isla sempre presumiu que os governantes eram os piores do Centenário. Os mais poderosos. Os mais letais.
A maneira como o rei falou sobre essas criaturas antigas fez com que ela acreditasse que isso n?o era verdade. Fez com que se perguntasse qu?o mortais elas poderiam ser.
E também fez com que torcesse para nunca descobrir.
CAPíTULO VINTE E SEIS
ESPINHOS
Fazia dez dias desde a última vez em que Grim a tinha procurado. Ela deveria estar aliviada, mas parte dela esmoreceu diante do fato de que Celeste provavelmente estava certa.