Lightlark (Lightlark, #1)(116)
Oro ponderou, estreitando os olhos.
— Remlar disse que seria onde a escurid?o encontra a luz. — Esse devia ser o nome do homem alado, pensou Isla.
— E se forem as duas coisas? Em um lugar onde a escurid?o encontra a luz, mas só durante o amanhecer ou o anoitecer?
Oro piscou para afastar o cansa?o. Pensando. Ele estava t?o concentrado que Isla quase podia ver sua mente trabalhando por trás dos olhos, repassando possibilidades. Ele olhou para a mesa, a m?o aberta em cima dela.
Ele balan?ou a cabe?a.
— Eu procurei na ilha por décadas e nunca encontrei… Talvez seja por isso.
O amaldi?oado rei Solar n?o podia sair ao anoitecer ou ao amanhecer, horários muito próximos da luz do sol. Eles sempre procuraram o cora??o à noite, muito depois de o sol desaparecer. Isso explicaria por que o cora??o n?o estava em nenhum dos lugares que haviam verificado. Talvez estivesse, mas escondido. Oro se virou para ela.
— Isla, acho que você pode estar certa.
Ela se levantou. Oro também. Eles se encararam, e ele sorriu. Sorriu.
Isla nunca o tinha visto t?o feliz.
Algo no sorriso dele a remeteu a outra lembran?a feliz. O momento em que ela sentiu as chamas contra seus bra?os, formigando dolorosamente ao longo de sua pele congelada, o alívio mais doce do que uma colherada de mel. O momento em que ela soube, cercada pelos Vinderen, que havia sido salva. Por Oro.
Ele a tinha encontrado, contra todas as probabilidades. Eu segui o pássaro, ele tinha dito.
Ela sorriu. A mesma criatura que quase a condenara tinha salvado sua vida.
Oro ergueu uma sobrancelha para ela, tentando ler seus pensamentos.
Isla congelou. Ela sentiu o sangue sumir do rosto, e Oro estendeu a m?o para firmá-la enquanto ela se apoiava contra a mesa.
O pássaro havia seguido Isla de forma implacável toda vez que eles pisavam na Ilha da Lua. Ela presumiu que ele era os olhos e ouvidos de Cleo, mas e se estivesse errada?
E se o pássaro estivesse tentando mostrar algo a ela?
— Eu sei onde está o cora??o — disse.
CAPíTULO CINQUENTA E UM
CORA??O
Os passos de Isla eram silenciosos na neve. Sua respira??o era estável. O mundo inteiro havia se estreitado em um túnel. Seus pensamentos, em geral incessantes, foram substituídos por uma calma predatória, a sensa??o de pouco antes de matar, um momento antes de lan?ar uma flecha, a tens?o da corda.
Ela estava certa desta vez. Sabia disso com cada parte de si.
Oro estava esperando por ela no hall do castelo naquela noite. O c?modo zumbia com uma energia invisível, emanando dele em ondas. Ele estava ansioso. Esperan?oso.
Ela sorriu, mesmo sem querer. Porque estava ansiosa e esperan?osa também.
Isla caminhou até ele, ficou na ponta dos pés e deu um peteleco em sua coroa. Sorriu para ele, testando-o, vendo se os meses trabalhando juntos talvez tivessem acabado com seu desdém por ela.
Oro franziu a testa. Ent?o a surpreendeu, tirando a própria coroa…
E colocando-a na cabe?a de Isla, por cima da que usava.
— Se estiver certa sobre isso, Selvagem — ele disse —, você pode se tornar mais poderosa até do que eu.
Suas palavras quase fizeram os joelhos de Isla vacilarem. Ele realmente estava dando a vitória a ela. N?o, reconhecendo que a vitória era dela.
Isla havia descoberto o que o rei n?o tinha conseguido compreender.
Ela tirou a própria coroa e a colocou no cabelo dourado de Oro. Ficava ridiculamente pequena na cabe?a dele, e Isla fez um biquinho.
— O reino Selvagem combina com você, rei — ela disse antes de sair pelas portas.
A coroa dele ainda era quente e pesada em sua cabe?a. Era t?o grande que escorregou até o meio da testa, mas Isla percebeu que n?o se importava.
Faltava pouco menos de uma hora para o amanhecer. Tempo o suficiente para procurar um abrigo para Oro. Assim que o encontrassem, tudo o que teriam que fazer era esperar.
A pele de Isla co?ava; seu corpo estava todo coberto de faíscas. Ainda assim, ela ficou em seu túnel, concentrando toda a energia no outro lado.
O cora??o. Aqueles que amava. Seu futuro.
O poder era a última coisa em sua mente. Se ela pudesse salvar Celeste e Terra, ficaria contente. Elas significavam muito mais do que habilidades e poderes jamais significariam. Sabia disso agora.
Ela só esperava n?o ter percebido tarde demais.
— O que você vai fazer? — perguntou a Oro enquanto davam os primeiros passos pela Ilha da Lua. — Quando quebrarmos as maldi??es?
Oro caminhava com firmeza, olhos fixos no céu.
— Vou reconstruir — respondeu. — Nos últimos séculos, o foco do reino tem sido as maldi??es. Como quebrá-las. Como viver com elas. Como sobreviver a elas. Quando tudo isso tiver acabado, vou estar livre para trazer Lightlark à glória de antes.
Isla levantou uma sobrancelha para ele.
— Com o reino Solar como o imperante?
Oro balan?ou a cabe?a.
— N?o. Como era antes. Quando os reinos eram unidos.
Ela soltou um longo suspiro. Unidos. Isso significaria os Selvagens retornando para Lightlark. Os que restaram, pensou, o pavor torcendo o est?mago.
— N?o tenho certeza de que o povo de Lightlark ficaria feliz caso os Selvagens voltassem.