Lightlark (Lightlark, #1)(118)
Isla colocou a m?o com cuidado no ombro dele, e ele enrijeceu-se. Ela a retirou rapidamente.
Oro gritou mais uma vez, os dedos se cravando mais fundo na pedra, fogo se formando e se apagando em suas palmas, gelo congelando e derretendo, faíscas revestindo-as, depois desaparecendo.
— O que… o que posso fazer para ajudar? — ela perguntou, em panico. Tinha que haver algo que ela pudesse oferecer.
Os olhos deles ainda estavam fechados. Ele engoliu em seco e ela observou o movimento, observou-o estremecer outra vez. Encontrou-se imaginando se ela tomaria sua dor para si, se pudesse.
— Cante para mim, Selvagem — ele enfim disse.
Isla pensou que devia ter ouvido mal, mas ele inspirou e expirou de forma trêmula. Em silêncio. Esperando.
Ela se lembrou da noite na varanda. Quando cantou sem saber que alguém estava ouvindo.
Ele tinha aplaudido, e ela presumiu que estivesse sendo maldoso.
Talvez tivesse mesmo gostado.
Isla come?ou a cantar uma can??o Selvagem. Sua música favorita. A única que cantava quando queria ouvir sua própria voz ecoando de volta para ela. Quando estava sozinha em seus aposentos e esperava que alguém bem longe dali pudesse ouvi-la. Quando se perguntava se havia alguém a reinos de distancia, escutando.
Cantou aquela música.
Sua voz era doce como mel, aguda como sinos, profunda como o trov?o. Ela podia fazer coisas selvagens com sua voz, e fez, sentando-se nos calcanhares, os joelhos encostando nas pernas dele. A voz ecoou pela caverna, harmonias se entrela?ando.
Os olhos de Oro se abriram em algum momento. Ele a observou, recuperando o f?lego aos poucos. Lentamente, seus punhos come?aram a se abrir. Ele descansou as palmas das m?os na pedra fria e escutou.
Isla sorriu para ele quando seus ombros relaxaram. Sua express?o n?o se alterou. Ela continuou a cantar, porque ele n?o tinha pedido para parar, e o sol n?o tinha nascido. Ela cantou até sua voz ficar rouca e o som mudar. Gostava quando ficava assim, mais grossa, diferente.
Parte dela se perguntou se ele a deixara continuar por educa??o, mas, quando Isla fechou a boca, Oro franziu a testa.
— Por que você parou?
Isla fez um gesto em dire??o à entrada da caverna, sem f?lego.
— Por causa daquilo.
O céu noturno estava clareando. A lua estava desaparecendo.
Oro ficou de pé em um instante. Ambos correram para a entrada, assistindo. Esperando.
Na luz que surgia, Isla notou algo. Ela semicerrou os olhos. Logo abaixo do ninho, algo flutuava no ar, livre da gravidade.
— Aquilo é um ovo? — ela perguntou.
Assim que as palavras saíram de sua boca, o ovo caiu. Lentamente, muito lentamente, caiu no ch?o.
E se abriu.
De sua casca emergiu uma brilhante gema dourada. Ela se ergueu do ch?o em sincronia com o sol nascendo no horizonte, do outro lado do penhasco.
— O ovo representa a lua — ela disse, sua voz rouca de tanto cantar. — A gema… é o sol.
Quantas vezes ela n?o pensou que a lua cheia parecia um ovo? Que o sol parecia uma gema? Isla se virou para Oro, os olhos arregalados.
— é isso — disse. — Esse é o cora??o.
O cora??o fica escondido até desabrochar e se tornar parte de Lightlark. Oro havia presumido que fosse uma planta, mas, desta vez, o cora??o tinha voltado como a própria base da vida. Um ovo.
Oro observou a gema flutuando e a casca descartada com tanta admira??o que Isla se perguntou se iria cair de joelhos. Ele encontrou o olhar dela e sorriu t?o gloriosamente que era como se o próprio sol estivesse brilhando através de sua pele.
Ele a pegou nos bra?os e a girou. Isla riu, t?o perto de chorar de alívio, seus olhos ardendo, os pulm?es queimando. Foi imediatamente inundada pelo calor dele, atravessando seus ossos. Um momento depois, estava no ch?o novamente.
Oro balan?ou a cabe?a em descren?a e estendeu a m?o para sua coroa na cabe?a dela. Isla se perguntou se estava prestes a pegá-la de volta. Em vez disso, ele a endireitou, sorrindo.
— Vá em frente, Selvagem. Pegue nosso cora??o.
Ela sorriu de volta.
Finalmente.
Ela n?o era fraca. Tinha resolvido o enigma da profecia, encontrado o cora??o, do jeito dela. Estava certa. Ia salvar as pessoas que amava. Ia fazer o que até mesmo suas tutoras achavam que ela era incapaz de realizar.
Ia vencer o Centenário.
Isla partiu em dire??o à árvore. O pássaro gritou alegremente. A gema era brilhante como o sol, pequena o suficiente para caber no centro de sua palma. Brilhava como ouro puro. A fonte de todo o poder de Lightlark. Seu cora??o.
Ela estendeu a m?o para a gema. Segurou-a. Sentiu a for?a disparar através da pele e dos ossos, o poder como um jato de água fria, uma onda gigantesca no topo de sua cabe?a, chamas lambendo cada centímetro do seu corpo.
E sentiu tudo isso sumir quando uma flecha atravessou seu peito.
Isla engasgou, caindo de joelhos. Seu queixo baixou, e seus olhos pousaram na longa ponta de uma flecha, atravessando seu cora??o.
Um tiro perfeito.
Um rugido irrompeu em algum lugar atrás dela. Ela pensou que poderia ser Oro, pouco antes de o fogo engolir a floresta, queimando pessoas… Havia pessoas.
Vinderens. Ali para se vingar. Arcos ainda a postos. Eles puxaram suas cordas para acertá-la novamente, ent?o morreram. Oro tinha matado todos eles num instante.