Lightlark (Lightlark, #1)(117)
— Eles ter?o que aprender a lidar com isso — disse Oro. Sua voz era t?o firme que ela o encarou. Ele encontrou seu olhar. — E talvez você queira ficar.
Isla piscou. Nunca havia pensado em ficar em Lightlark. Durante o pouco tempo em que se permitiu sonhar sobre o depois, sobre como seria sua vida se conseguisse quebrar as maldi??es, tinha imaginado apenas fragmentos. Ela e Celeste, de volta às novas terras Estelares. Comemorando os aniversários da amiga sem tristeza ou medo. Liderando a nova terra Selvagem com confian?a, Terra e Poppy fortes ao seu lado. E mais recentemente… visitando Umbra. Passando tempo com Grim.
Nenhum de seus futuros incluía a ilha.
— Talvez — ela disse, mas era uma mentira. E, por causa de seu dom, Oro sabia.
Eles caminharam durante meia hora pela Ilha da Lua, em silêncio.
O vento a?oitava suas bochechas com tanta violência que Isla se perguntou se Azul era o responsável. Azul. Ela n?o tinha contado a Oro sobre a prova de que era ele o responsável por envenenar Celeste. Ent?o fez isso naquele momento.
Oro franziu a testa.
— Deve haver algum engano — disse. — Azul nunca quis ferir outro governante. Nunca tentou formar uma alian?a.
Ela acabara de contar a ele que o Etéreo tinha envenenado Celeste. N?o era prova o suficiente de que n?o era inocente?
Por que Oro estava defendendo Azul? Ela queria exigir uma explica??o, mas recuou quando um grito ecoou em seu ouvido.
O pássaro azul-escuro.
Suas asas batiam lentamente, como se as penas fossem muito pesadas para o corpo pequeno. Ele grasnou de novo. Desta vez, Isla n?o o amea?ou.
Ela o seguiu.
Isla e Oro correram com pressa pela neve, e ela apertou os olhos, tentando n?o perder o pássaro de vista no escuro. N?o sentiu o frio, ou a terra afundando sob seus pés, ou qualquer outra coisa, enquanto seguia o pássaro em meio à floresta repleta de galhos esqueléticos, que agarravam as roupas deles como se implorando para que diminuíssem a velocidade.
Ela continuava em frente. Ofegando.
O pássaro n?o era o cora??o. Sabia disso.
Mas a levaria até ele.
Montanhas de gelo surgiram. Os oráculos n?o estavam longe. Onde a escurid?o encontra a luz. Ela se lembrou do que o oráculo dissera… que o cora??o n?o estava no gelo, mas estava próximo, mais próximo do que você imagina. As árvores ficaram mais distantes umas das outras aqui, com mais espa?o para a neve se acumular. Um rio serpenteava entre elas, o som da água se partindo e voltando a congelar como pequenas rachaduras da lenha se estilha?ando.
Outro guincho ecoou pela noite. Ela avistou o pássaro enquanto ele mergulhava para baixo e voava para cima, para uma árvore.
Até um ninho.
— Aqui — disse Isla. Ela sabia que o cora??o estava ali em algum lugar.
Tudo o que eles tinham que fazer era esperar pelo amanhecer.
Eles encontraram uma caverna esculpida em uma das montanhas de gelo, com vista para a árvore. Oro fez uma fogueira, embora Isla soubesse que ele poderia aquecê-los sem isso. Ele precisava ocupar as m?os para distraí-lo do tempo que passava vagarosamente e do pássaro a poucos metros de distancia.
Ou talvez ele n?o pudesse aquecê-los. Isla tinha visto o quanto de sua pele estava coberta pela mancha cinza-azulada. Tinha sentido a ilha ficando mais fria e mais escura a cada dia que passava.
As chamas aumentaram e atingiram o pico em lindos movimentos. O fogo de Oro ainda estava laranja e vermelho, mas também tingido de algo diferente… um estranho tom de azul-escuro. Ao que parecia, essa era a marca registrada dele.
Isla passou um dedo ao redor da coroa de Oro, empoleirada precariamente em sua cabe?a. Ela franziu a testa, apertando os olhos para enxergar melhor a borda, logo acima de suas sobrancelhas.
— é afiada demais — disse ela, sugando a ponta do dedo onde a pele tinha sido furada por uma das pontas.
Oro deu risada. Era um som glorioso, fazendo-a sorrir imediatamente em resposta. Genuíno. Talvez porque, pelo que tinha visto, ela era a única capaz de fazê-lo rir.
Mas ent?o ele se encurvou.
A Ilha da Lua estremeceu. Estalactites de gelo caíram da entrada da caverna como adagas, algumas se quebrando, outras se fincando no ch?o. Isla se esquivou de uma que quase atravessou seu bra?o.
As m?os de Oro estavam em punhos, e ele arqueou o corpo, grunhindo, o rosto contorcido de dor.
A neve deslizava das montanhas, amea?ando soterrar a entrada da caverna. O pássaro gritou com raiva, um som t?o alto que a fez estremecer. Um estalo como um trov?o soou quando uma geleira se abriu.
T?o rápido quanto os choques come?aram, terminaram.
A ilha está desmoronando, e eu serei levada junto com ela.
Oro ofegou, os dedos enfiados na pedra. Suas costas estremeciam como se ele ainda sentisse os tremores, ainda sentindo dor por todo o corpo.
Isla deu um passo cuidadoso na dire??o dele. Ajoelhou-se até ficar bem na sua frente.
Ele se recostou na parede, os olhos bem fechados.
— Você está bem?
Oro assentiu na mesma hora em que seu corpo inteiro se contraiu mais uma vez, como se ele tivesse sido atingido por um raio. Ele bateu a m?o no ch?o, e longas rachaduras irromperam do lugar que ele havia atingido; a energia Estelar fazendo a caverna cheirar a faíscas.
Isla n?o conseguia imaginar a dor. A conex?o dele com a ilha significava que ele sentia seu poder… mas também sua destrui??o.