Lightlark (Lightlark, #1)(45)
Ela caiu.
àquela altura, ela talvez quebrasse as pernas. Ou, dependendo de como caísse, as costelas. Ou a coluna.
De qualquer forma, seria descoberta. Encontrada, cheia de fraturas, bem ao lado das muralhas do castelo.
Sem o desvinculador.
Sem o futuro que ela desejava mais do que tudo, um futuro que mudava a cada dia, quanto mais ela via e experimentava.
N?o.
T?o rápido que era memória muscular, Isla soltou a parte de trás de seu colar — uma adaga disfar?ada como gargantilha, a ponta afiada fazendo as vezes de fecho — e cravou a lamina na rocha com toda a for?a.
Ela parou de cair.
Por muito pouco.
Um segundo depois, a lamina cedeu.
Mas ela já tinha se segurado em outro lugar.
Estava a seis metros da janela agora, mas estava viva. Inteira.
Seu est?mago parecia ter virado do avesso, o cora??o retumbava contra o penhasco.
N?o é hora de comemorar. Com o suor escorrendo pela nuca, apesar do frio, Isla continuou escalando até a janela. O rugido ainda dominava seus ouvidos — se era do mar, da adrenalina, ou de seu corpo avisando que ela n?o estava pronta para fazer tanto esfor?o, ela n?o tinha certeza.
Minutos depois, ela se ergueu até a borda, levantou a janela destrancada e se arrastou para dentro.
O castelo da Ilha da Lua estava quieto.
Cada centímetro era esculpido em mármore branco, com veios azul-escuros atravessando a pedra como rios. Lembrava Cleo.
Impecável. Perene.
Algo nele era desconcertante.
Estava tarde. Os Lunares deviam ter se retirado para seus quartos dentro do castelo. Desde as maldi??es, Celeste dissera, a maioria havia se mudado para o palácio, o único edifício na ilha alto o suficiente para escapar do que acontecia na lua cheia.
Mesmo lá dentro, Isla podia ouvir o rugido do mar, se erguendo em ondas desesperadas na dire??o de seus habitantes.
A maioria das pessoas devia estar dormindo. Ou talvez houvesse regras. Cleo parecia ter prazer em exercer seu poder. Talvez houvesse um toque de recolher. Ou áreas restritas do castelo.
Era um labirinto.
Isla n?o sabia para onde estava indo, só que a biblioteca ficava nos fundos, com vista para o mar.
Ent?o, ela seguiu para lá.
Alguns passos soavam pelo corredor, seguidos por ordens. Guardas, patrulhando certos corredores.
Havia tantos. Muito, muito mais do que ela vira em outras partes da ilha. Agora que pensava sobre isso, n?o havia guardas na Ilha do Céu. Também n?o havia muitos no Continente, exceto os que acendiam as tochas na pra?a.
O que Cleo estava fazendo?
Isla esperava que a biblioteca n?o fosse t?o monitorada. Afinal, para entrar na se??o restrita ela precisava do toque de Cleo. Mas quanto mais ela se aprofundava no palácio, mais ela escutava. Sussurros através das paredes. O gorgolejo de água sendo manipulada. O agudo crepitante da água sendo transformada em gelo.
Ela estava perto das masmorras? Ou os guardas estavam simplesmente treinando?
Para quê?
Um vulto de algo branco surgiu ao seu lado, e ela disparou para o c?modo mais próximo que conseguiu encontrar.
Vazio. Apenas quatro paredes de pedra que congelavam até os ossos enquanto Isla se encolhia, esperando que o transeunte n?o a tivesse visto.
Por alguns momentos, houve apenas silêncio.
Ent?o, ela ouviu vozes.
— Você estava patrulhando este corredor? — Um homem.
— N?o. — Uma mulher.
— Lazlo?
A mulher grunhiu que n?o.
— Por quê?
Um segundo.
— Eu vi alguém.
— Aqui?
Isla congelou. Tinha sido vista.
O homem e a mulher estavam andando pelo corredor agora; ela podia ouvir claramente as botas no mármore, estalando como o tilintar de porcelana.
Cada passo deixava os guardas mais perto dela.
— Como alguém passaria pela legi?o? — disse a mulher.
Legi?o?
Cleo estava construindo um exército.
Por quê?
O que ela estava planejando?
Isla n?o teve muito tempo para pensar.
Porque, um momento depois, a porta do quarto em que ela estava escondida se abriu.
CAPíTULO DEZENOVE
DEBAIXO D’áGUA
Os guardas n?o tiveram tempo para pegar suas laminas de gelo ou manipular a água que carregavam nos frascos presos aos cintos.
Antes que pudessem gritar por socorro, Isla os atingiu em seis lugares diferentes, pontos especiais que Terra a ensinou a atacar.
Seus músculos bambearam.
Um bom golpe na parte de trás da cabe?a de cada um, e eles caíram no ch?o, desmaiados. Nem uma gota de sangue.
Terra ficaria orgulhosa.
Quando parou, estava ofegante. A escalada, a luta; tinham exigido muita energia. Isla realmente n?o deveria estar fora da cama, muito menos no território de outro governante.
Tarde demais. Ela já estava aqui, e as coisas já estavam come?ando a sair do controle.
O mais silenciosamente que p?de, com toda a for?a que conseguiu reunir, Isla os arrastou para dentro do quarto, fechou a porta atrás deles e disparou pelo corredor.
Ou eles acordariam e pediriam ajuda, ou alguém perceberia que tinham sumido e pediria ajuda, ou alguém estava prestes a detê-la e ent?o pediria ajuda.