Lightlark (Lightlark, #1)(46)



Estava claro que o tempo de ser uma sombra havia acabado.

Agora ela só precisava entrar na biblioteca. Com toda a velocidade que suas pernas enfraquecidas eram capazes de alcan?ar.

O próximo corredor estava vazio, mas o seguinte tinha quatro guardas, encostados na parede, queixo erguido, espada de gelo no peito como os quebra-nozes que ela vira uma vez no mercado. Ao som de seus passos, eles vieram à vida, virando-se na sua dire??o.

Hora de ir, pensou, fazendo outra curva e torcendo para que estivesse seguindo na dire??o certa.

O som de botas ecoava alto atrás dela, os ruídos crescendo à medida que mais guardas se juntavam à persegui??o. Isla correu o mais rápido que p?de, vestido branco girando atrás dela como uma nuvem de vapor. Seu peito produzia sons preocupantes com cada inspira??o. Seus ossos e músculos doíam.

Os corredores eram intermináveis. Isla pensou ter feito uma curva errada. Logo seria pega.

Talvez ela estivesse se afastando. Talvez tivesse ficado desorientada em sua tentativa de fugir dos guardas. Talvez...

Ent?o ela ouviu.

O mar, mais alto do que antes, ecoando como um trov?o. Uma besta fazendo as paredes do castelo tremerem com seu cerco firme.

A biblioteca tinha que estar por ali.

Ela partiu na dire??o do som do mar, seguindo sua for?a, estremecendo com a dor pulsante no bra?o, no peito e na cabe?a, como se os três estivessem tendo uma conversa. Quanto mais ela se aprofundava no castelo, mais os candelabros do teto balan?avam, cristais pálidos tinindo. Mais obras de arte estremeciam em seus ganchos. A maldi??o Lunar era implacável.

Quantos outros ciclos seriam necessários para o castelo simplesmente ser derrubado do penhasco, na boca do oceano à espera? Quando o mar seria recompensado por seus esfor?os e conseguiria reaver todo o palácio e seus habitantes de uma só vez?

N?o naquela noite, ela esperava, enquanto corria e corria e corria, mais rápido que os guardas, o mais rápido que conseguia sem desmaiar.

Até que ela quase bateu em uma parede.

Um beco sem saída.

N?o havia mais corredores. N?o havia mais curvas. Nem portas.

Apenas uma parede.

Ela se curvou, com as m?os nos joelhos, e come?ou a tossir, o frio no peito subindo pela garganta. Suas pernas vacilaram.

Os passos atrás dela se transformaram em uma debandada, e estavam se aproximando. Mais alguns segundos e estaria cercada.

O oceano fez outro ataque contra o palácio, furioso. Ela esperava, t?o perto do exterior, sentir o golpe nos ossos, o mar atingindo diretamente a pedra na frente dela.

Mas, enquanto se preparava para o impacto, a onda bateu, e a parede n?o tremeu tanto quanto deveria.

O que significava que havia mais alguma coisa atrás dela.

Enquanto os guardas faziam a curva, Isla vestiu as luvas de Celeste depressa e encostou nos tijolos.

As pedras come?aram a girar, um quebra-cabe?a se desmontando, mostrando uma porta.

Ela abriu. E Isla passou por ela, depois a bateu, esperando que ela desaparecesse novamente.

Os guardas eram uma enxurrada de sons do outro lado, alertando outros de sua equipe. A legi?o, talvez.

— Intrusa! — ela ouviu. — Na biblioteca!

Ela estava presa lá dentro. Encurralada.

Mas pelo menos agora sabia que tinha encontrado.

Isla se virou e viu uma biblioteca-geleira. Perfeito. Como se ela já n?o estivesse com frio o suficiente. Todos os livros estavam presos em paredes de gelo. Placas infinitas formavam fileiras, uma sala inteira de pergaminhos congelados.

Ela deveria ter suspeitado que Cleo teria restringido o acesso à biblioteca inteira, em vez de a uma se??o específica.

Um estrondo soou do lado de fora enquanto os guardas tentavam derrubar a parede.

N?o há tempo a perder. Ela disparou, correndo pelas fileiras gélidas, quase escorregando no piso de mármore coberto de gelo. Seus pés patinavam enquanto fazia a curva.

E ficou cara a cara com uma onda monstruosa. Ela atingiu o conjunto de portas de vidro com tal for?a que pareceu sacudir o castelo até seus alicerces. Se Isla n?o tivesse agarrado uma prateleira coberta de gelo, teria caído no ch?o.

As portas levavam a uma varanda branca curva, agora inundada com espuma do mar tal qual uma boca raivosa, resquícios da onda que recuava, reunindo for?as para atacar mais uma vez. Era impressionante que as portas de vidro n?o tivessem se quebrado. Elas deviam ser refor?adas com algum encantamento.

Encantamento.

Onde estavam as relíquias? Tudo o que ela via eram livros.

— Ela está lá dentro!

— Tragam a governante!

Governante? Isla engoliu em seco. Cleo deveria estar dormindo no Castelo do Continente. Era tradi??o passar a maior parte do tempo lá, especialmente durante os primeiros vinte e cinco dias.

Ela precisava se apressar. Seus olhos se esfor?aram para absorver cada centímetro da biblioteca. Havia apenas um andar.

Nada. Apenas livros dentro do gelo, até onde podia ver.

Ela devia ter deixado algo passar.

Isla se virou, pronta para dar uma olhada nas prateleiras da frente, quando outra onda esmagadora a fez cair para a frente.

Desta vez, ela caiu no ch?o.

Houve um terrível som estalado quando sua cabe?a bateu no piso.

Por um momento, viu apenas um branco ofuscante. Ela piscou, for?ando sua vis?o a se acertar, dizendo ao corpo que n?o havia tempo a perder ou ceder à dor.

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