Lightlark (Lightlark, #1)(92)
E seu reino já n?o tinha mais nada.
Terra. Sua instrutora de luta, a pessoa mais próxima de Isla nesse mundo. Quem tinha lhe ensinado tudo que sabia.
Poppy estava ajoelhada ao lado dela, aplicando um elixir que atrasaria a transi??o, mas isso n?o salvaria Terra. N?o salvaria seu reino.
— Coloco minha m?o na terra, para falar com as árvores — Terra disse a Poppy, a voz mais fraca do que Isla pensava ser possível. — Mas a terra está morta em minha m?o.
Poppy segurou os dedos macios que sobravam de Terra.
— Ainda temos tempo — disse ela. — Nossa passarinha ainda está lutando por nós.
Terra apenas fechou os olhos.
— Quantos outros est?o assim? — ela perguntou.
— Quase todos — Poppy respondeu.
Isla pensou que seu povo estaria exatamente do jeito que ela os havia deixado. O reino Selvagem havia enfraquecido durante seu reinado, mas tinha acontecido de forma gradual.
Como isso era possível?
A terra havia ficado sem energia por muito tempo. O solo exigia o que lhe era devido. Levando Selvagens poderosos, um por um.
Quebrar a sua maldi??o e a deles n?o os salvaria, era tarde demais para o reino Selvagem. Até os poderes com os quais ela deveria ter nascido n?o seriam suficientes. N?o depois de ficarem mais fracos a cada gera??o de governante.
Para salvá-los, ela precisava de mais, mais do que um único governante poderia dar.
Lágrimas escorrendo pelo seu rosto, Isla se lembrou do prêmio. A pessoa que quebrasse as maldi??es estava fadada a receber uma habilidade imensurável; mais poder do que os reinos já viram. O tipo de poder que poderia salvá-los. O tipo que poderia salvar Terra. Por todo o Centenário, Isla esteve concentrada em garantir que n?o perdesse.
Agora, ela sabia que tinha que vencer.
Isla achou que ia vomitar. Tinha chorado por tanto tempo, parecia impossível que ainda houvesse algum líquido em seu corpo.
— O que aconteceu? — A voz de Oro soou surpreendentemente gentil quando ela o encontrou, andando de um lado para o outro em um c?modo no castelo do Continente. — Eu estava com você há apenas algumas horas — ele disse, confuso, com raiva, murmurando quase para si mesmo.
Seus olhos ainda deviam estar inchados. Ela n?o respondeu à pergunta.
— Sua oferta ainda está de pé?
Oro parecia saber que ela se referia à conversa na caverna. Para seu alívio, ele assentiu. Uma lágrima escorreu pela bochecha de Isla.
— Posso confiar em você? — ela perguntou.
Oro olhou para ela.
— Sim. Eu nunca menti para você, Isla. Nem uma vez.
Ela torcia para que isso fosse verdade. Seu est?mago parecia estar virado do avesso. Se Celeste soubesse que ela havia compartilhado de forma voluntária seu maior segredo com o rei, ficaria furiosa, mas a Estelar entenderia.
Isla n?o tinha escolha agora.
Oro estava bem na frente dela. Ele colocou a m?o na testa de Isla. Ele franzia a própria testa. Achava que ela estava doente? Ele analisou seu corpo rapidamente, clinicamente, procurando por les?es. Achava que ela estava ferida?
Ela desejou que estivesse. A dor física seria menos dolorosa.
Isla n?o acreditava que iria lhe contar seu segredo. Ela fechou os olhos, incapazes de olhar para ele como ela fazia. Cada osso em seu corpo, veia, músculo e faixa de pele gritavam contra essa ideia.
Seu segredo é sua maior fraqueza. Nunca o revele. A regra era como seu cobertor favorito. Ela aprendera isso antes de qualquer outra coisa. Todas as outras li??es nasceram daquela. Isla precisava aprender a lutar porque n?o tinha poderes. Precisava se esconder em seu quarto porque n?o tinha poderes. N?o podia encontrar ninguém sozinha porque n?o tinha poderes.
Era uma decep??o porque n?o tinha poderes.
Tinha que seguir as regras porque n?o tinha poderes.
Terra e Poppy governaram em seu lugar porque ela n?o tinha poderes.
Isla tinha que sobreviver ao Centenário e mentir, enganar, roubar e matar porque n?o tinha poderes.
N?o. Ela for?ou os olhos a abrirem. Obrigou-se a olhar diretamente para o rei quando disse as palavras ao redor das quais toda a sua vida havia sido construída. A base de tudo.
— Eu nasci sem poderes.
Pronto. As palavras saíram como pássaros soltos. A gaiola estava aberta. Nada nem ninguém poderia prendê-las de volta.
Oro ficou imóvel. Ela via em seus olhos que ele esperava qualquer coisa, menos isso.
O rei franziu a testa, confuso, apertou os olhos.
Um milh?o de pensamentos passavam por sua cabe?a, e Isla imaginou que nenhum deles era bom.
Era pedir demais para que ela ficasse ali depois de revelar seu segredo. Era forte o suficiente para dizer as palavras, mas n?o para ficar.
Isla deu meia-volta, mas Oro a deteve com um toque gentil.
Ele parecia estranho. Um pouco horrorizado.
— Você está dizendo que nunca usou poderes? — ele demandou.
Ela piscou. Ela teria que repetir?
— Sim — ela disse, sua voz trêmula. Ela engoliu em seco. — N?o se pode usar algo que n?o se tem.
Pela primeira vez, Oro ficou sem palavras. Ela poderia ter gostado de vê-lo t?o perturbado se n?o estivesse vivendo o pior dia de sua vida.
E ela sup?s que o oráculo estava certo, seu segredo foi revelado. Apenas n?o da maneira que ela havia imaginado.